Caros senhores,
Junto as SARAIVADAS de 15 de Março do corrente ano.
Nestas, Saraiva oscila entre o desacerto e o acerto. Lastimável na primeira posição. De aplaudir na segunda.
Os melhores cumprimentos.
Brasilino Godinho
SARAIVADAS…
Ou as confissões do Arq.º Saraiva…
Brasilino Godinho
http://quintalusitana.blogspot.com
Tema: SARAIVA PERDIDO E ACHADO…
EM “A revolta dos professores”
José António Saraiva, esta semana escreveu um editorial sobre “A revolta dos professores”. Ao seu peculiar estilo o articulista manifesta uma insanável salgalhada entre ideias feitas, por si assimiladas sem esforço crítico, que expende com alguma ligeireza na primeira coluna e considerações pertinentes e válidas acerca da essência da problemática em causa que formula nas outras quatro colunas que compõem o texto.
Na primeira coluna lêem-se opiniões de Saraiva que aos leitores causariam a maior perplexidade se não fora o caso de já se terem habituado à frequência das confusões do conhecido arquitecto-jornalista.
Por exemplo:
“Nas MINHAS aulas na Universidade Católica defendo que todas as manifestações têm uma componente antidemocrática. Porquê? Porque o seu objectivo é sempre forçar o Governo legitimamente eleito a fazer (ou não fazer) alguma coisa contra sua vontade. Nas democracias a vontade popular exprime-se pelo voto. Ora as manifestações são uma espécie de pronunciamento pacífico de revolta sem violência, que pela força do número pretende obrigar o poder político a mudar de posição” (o sublinhado é nosso).
O arquitecto-jornalista José António Saraiva não tem razão ao emitir as precedentes observações.
Em primeiro lugar sobressaem os manifestos egocentrismo e voluntarismo: “Nas MINHAS aulas defendo que todas as manifestações têm uma componente antidemocrática. Elas (todas… sem escapar nenhuma, com o pecado original atribuído por Saraiva) não têm nenhuma componente antidemocrática. Simplesmente são expressão colectiva e pública de sentimentos e opiniões, legítimas e nalguns casos imprescindíveis para a reposição da normalidade político-administrativa. Sobretudo quando os poderes exorbitam nas suas funções e desvirtuam o sentido das políticas sufragadas pelo eleitorado. Ou nos casos em que desenvolvem práticas lesivas dos interesses da comunidade e da qualidade de vida das populações. As pessoas ao manifestarem-se exercem um direito constitucional e, até, cumprem uma obrigação cívica. O que nunca pode ser admitido como antidemocrático.
Atendendo á circunstância do professor Saraiva induzir em erro de interpretação um tal processo dinâmico de exercício da plena cidadania dos futuros cidadãos é lastimável que assim suceda, porquanto não se estará a dar a melhor formação aos jovens - a qual, necessariamente, implicaria da parte do mestre a maior abertura de espírito e justeza convenientemente adequada à matéria.
Depois, mesmo ao “ Governo legitimamente eleito” é-lhe vedado, sob o ponto de vista ético e consoante o enquadramento da legalidade da acção governativa, fazer qualquer coisa que, subordinada à sua interesseira vontade ou a desperta tendência autoritária, redunde no desprezo e prejuízo dos superiores interesses das populações; sobretudo das camadas mais desfavorecidas.
Ademais sempre que o Governo enveredar pelo autoritarismo, se mostre incompetente e encaminhe o país para o abismo, bom será que hajam intervenções ordeiras que o forcem a corrigir os maus procedimentos. E quanto maior for o número dos manifestantes, reflexo do mal-estar geral, melhor para se induzir um bom futuro da sociedade portuguesa. Até porque os cidadãos nem dispõem de meios eficazes para intervirem junto dos poderes constituídos que regem o sistema político-administrativo. Atente-se que o Parlamento, da presente república maçónica, não cumpre o requisito de zelar pelo Bem Comum – o que é sobejamente reconhecido por toda a gente em Portugal.
Registe-se que pouco importa, sob o ponto de vista do prestígio e da representatividade das personagens, que hajam recuos nas orientações governamentais - desde que levados à prática com a perspectiva de melhores soluções. Não é por aí que lhes caem os pergaminhos ou os parentes na lama… Aliás instalou-se a perversa ideia dos recuos serem banidos da governação porque motivo de chacota das oposições; o que tanto perturba governantes, opositores e meios de comunicação social. É uma asserção cínica, mal intencionada e limitativa - que já começa a assumir os contornos de alienação mental - facilmente acolhida pelos políticos e comentadores medíocres e irresponsáveis que, afinal, os condicionam e os levam, pelo temor do significado, pelo pretenso risco da (ilusória) carga pejorativa do termo (recuo) ou, ainda, pela suposta e oportunista vantagem que os detractores julgam obter, a persistir na irracionalidade e no erro. Também, desta maneira, insensíveis segunda a primária lógica do modismo incongruente e algo estúpido.
Nessa embrulhada dos recuos acontece que aqueles que mais reclamam, apontam erros e “exigem” alterações de medidas e de orientações, são os mesmos que se as reclamações e “exigências” são atendidas pelos destinatários, por reconhecerem validade aos reparos que lhes cão feitos, mais agitam o “papão” (recuo). Outrossim, agigantam-se no disparate, ficam possessos, não mais se calam e lançam continuamente o pretenso labéu de que ministro e Governo recuaram – como sucedeu com o ministro Mário Lino no caso do aeroporto na Ota.
O pior da questão é a circunstância de, por outro lado, os fracos governantes que alegremente nos desgovernam, terem inculcada a ideia de auto-suficiência e que é uma chatice essa história do recuo. Mais consideram que a assumpção dos erros será sinal de fraqueza. Aqui, neste ponto, há que contrapor e acentuar que a verdadeira grandeza está na capacidade do reconhecimento da inexactidão. Só os burros e os ignorantes é que nunca se enganam. Os cidadãos inteligentes erram algumas vezes e muito aprendem com os erros. Infelizmente anda por aí muita gente altamente colocada em lugares cimeiros da sociedade que não aprende nada…
E porque manifestações pacíficas – como a recente dos professores – nem são pronunciamentos violentos ou bélicos é que invalidam as descabidas analogias que Saraiva faz com as quedas dos governos da I República e com as ruidosas e gigantescas concentrações na Alemanha e Itália dos tempos de Adolfo Hitler e Benito Mussolini, na URSS e na China..
Mal vai a Democracia, pior decorre o dia-a-dia dos cidadãos, exactamente por estar instalada a mentalidade na “inteligência” portuguesa de serviço às grandes e obscuras causas internacionalistas de que a vontade popular só se deve exprimir pelo voto. Reconheça-se que há muita gente interessada em manter essa restrição ao exercício da cidadania, que mais não é que uma falácia.
Mas importa alterar significativamente a situação. Visto que é muitíssimo redutor e perigoso que só pelo voto se exercite a participação dos cidadãos na vida colectiva. E, nas actuais circunstâncias, um dos modos de afirmação do querer do cidadão será através da manifestação pública sem violência.
Sintetizando: colhe a observação de aos analistas e professores caber a obrigação de na abordagem dos temas, se orientarem num único sentido que comporte dever de reserva, cuidado de objectividade, zelo de sapiência e nexo de responsabilidade, nas apreciações que daqueles se façam sob o delicado ângulo da crítica.
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