Faz sentido de oportunidade
DO MEU ACTIVO DE SER VIVENTE
HEI POR BEM DAR TESTEMUNHO
Brasilino Godinho
28/Maio/2020
No meu activo de ser vivente hei, por conveniência de ilustração, de retornar ao tempo da minha incipiente apreensão de consciência dessa impressiva condição de existência.
E nela me contemplando, com a vivacidade que me é reconhecida em correspondência e harmonia com os viçosos 89 anos de vida terrena, que se completarão no próximo mês de Outubro e ainda habilitado com a particularidade de ser detentor da soberba condição de paciente da “peste grisalha”, e sem jamais, que me recorde, ter andado na lua, ou simplesmente perdido por obscuros ares nunca antes navegados; afirmo que tive uma vida multifacetada e anoto que a muitas coisas assisti no transcurso de tão extensiva realidade física e existencial da criatura brasiliana que sou e é patente à vista desarmada ou através das oculares lentes bem armadas na cara de qualquer um indígena que se cruze comigo nas andanças que prossigo diariamente… - com natural exclusão destes três meses em que tenho estado em reclusão de quarentena.
Sem delonga, concretamente, reporto-me ao ano de 1939, tendo nessa altura a idade de 7 anos, precisamente quando aprendi a ler e a escrever na escola primária da Várzea Grande na cidade de Tomar, ensinado pelo professor Faustino Jacinto Costa, e ensaiava leccionar as primeiras letras à linda empregada doméstica Arminda, da família vizinha do 2.º andar do prédio da Rua Joaquim Jacinto, onde ambos tínhamos pousos de residência, satisfazendo os seus anseios de saber o que estava impresso na primeira página das edições quotidianas do Diário de Notícias e as legendas das fotos do general Francisco Franco que eram juntas com os relatos da evolução da Guerra Civil de Espanha.
De modo que eu soletrando e praticando leitura, também “ensinava” as primeiras letras à bela moça. Terá sido com ela a meu lado, por muitas vezes, rindo com as minhas observações, que o Brasilino Godinho deu arranque e radicalização de fascínio pelo belo sexo? Transcorridas inúmeras luas, passadas dezenas de anos, devo admitir publicamente que, nessa altura de invulgares circunstâncias, tal estado de veneração pelas mais belas flores da Natureza, se firmou avassaladoramente no meu espírito e se mantém vigorosamente até à presente data.
E por que falei de coisas a que junto loisas de tempos recuados ao século XX, em plena vigência do Estado Novo que há expirado de velhice e necrose incurável, naturalmente o meu pensamento tendeu a confrontá-las com aqueloutras que se nos deparam todos os dias na actual vigência da república partidocrática.
Para início de descritiva enunciação, dir-se-ia que panorâmica, do português espaço sociocultural, circunscrito ao meu tempo existencial, aponto personagens, actividades, eventos, acontecimentos e situações de relevante interesse e representatividade da época do regime fascista português e do correlativo estádio sociocultural; uns, outros e aqueloutras, todos, sublinho, fixados em posição de destaque no meu vasto acervo memorial.
Claro que época do salazarismo compreendida no século XX e contada a partir do ano de 1938.
Anoto que hoje é o dia 28 de Maio de 2020.
E ao que julgo saber, ninguém nos órgãos da Comunicação Social fez menção de que hoje perfaz 94 anos sobre a data (28 de Maio de 1926) do início em Braga, da chamada Revolução Nacional que instaurou a Ditadura Militar e proporcionou a ascensão do maçon António Oliveira Salazar à chefia do Governo, por chamamento de outro maçon general António Óscar Fragoso Carmona, presidente da República Portuguesa.
Assim se desencadeou um processo de instauração e consolidação do complexo Estado Maçónico, designado de Estado Novo (certamente para não se confundir com o Estado Velho, da Primeira República, também ele de matriz maçónica) que vigorou até ao dia 25 de Abril de 1974, concebido e moldado segundo os interesses, os desígnios e a mentalidade de Oliveira Salazar.
Vale a pena referir que escassos anos após a data (25 de Abril de 1974) da Revolução dos Cravos, alguém escreveu em texto publicado na imprensa que o regime do Estado Novo tinha sido o apogeu de um Estado maçónico, em Portugal.
Aproveito o ensejo para dizer que de facto o Estado Novo foi um Estado dominado pela Maçonaria e que naquela altura em que assim foi classificado haveria sentido em fazer público reconhecimento do seu apogeu funcional.
Contrariamente ao que possa parecer o Estado maçónico não colapsou com a Revolução dos Cravos. Logo no dia 25 de Abril de 1974 se iniciou a recomposição maçónica sob outra matriz operacional. O primeiro chefe do Governo Provisório, Professor Doutor Adelino da Palma Carlos era maçon e todos os presidentes das direcções da RTP que se foram sucedendo na função presidencial usufruíam de um estatuto comum: filiados na maçonaria. E no que toca a pessoal ministerial nem vale a pena perder tempo e ocupar largo espaço a mencioná-los.
Abreviando considerações, escrevo: A República Portuguesa é hoje um Estado Maçónico completamente cingido às directivas das várias fraternidades que procuram entre si repartir os instrumentos do Poder e exercer determinante influência em todos os sectores da sociedade portuguesa: Estado, Governo, Assembleia da República Autarquias, Magistratura Judicial, Tribunais, Forças Armadas, Polícias, Universidades, Escolas, Academia de Ciências, Igreja, Ordens Profissionais, Profissões Liberais, Bancos, Indústria, Comércio.
Nalguns casos a Maçonaria reparte poder e influência com a Opus Dei. O que sucede com extremo cuidado de não suscitarem entre si querelas ou desentendimentos que extravasem para o exterior das duas organizações secretas.
Como já tem sido anunciado publicamente por alguns grão-mestres: A Maçonaria é um Estado, dentro do Estado.
Mas com mais precisão se deve dizer: Portugal é um Estado Maçónico.
Nessa condição desde o reinado de D. Pedro IV que era maçon e fora incorporado na seita dos pedreiros-livres, em tempo de seu reinado no Brasil.
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