Terça-feira, Outubro 14, 2008
DO NOSSO DESENCANTO…
Brasilino Godinho
01 - Antes que o leitor se interrogue sobre o que são as “SARAIVADAS”, nós temos a honra, o prazer e a vaidade, de anteciparmos a resposta elucidativa. Até porque a designação é da nossa inteira responsabilidade.
As “SARAIVADAS”, num sentido geral, são as peças escritas da autoria do conhecido arquitecto-jornalista José António Saraiva, que todas as semanas pousam no semanário “SOL”, de Lisboa, que o tem como director e um dos proprietários. Às vezes também são as falas da mesma personalidade articuladas no decurso de uma qualquer entrevista aos órgãos da comunicação social. E porque as “conversas” de Saraiva (sobrinho do distinto José Hermano Saraiva, consagrado apresentador de programas culturais da Televisão) têm características próprias e reflectem os pensamentos da “maior cabeça pensante de Portugal”, entendemos não perder pitada dos aromas embriagadores que as perfumam (que o digam os pares amorosos que, recentemente, deles recolheram os eflúvios e logo obtiveram efeitos imediatos na concretização do nó conjugal…). Mais consideramos ser interessante e bastante conveniente para o “desenvolvimento sustentado” da irreflexão e da estupidez natural dos indígenas mais susceptíveis e menos aplicados, quer nas leituras, quer nas práticas de higiene mental, dar a conhecê-las (as sobreditas preciosidades linguísticas) ao maior número de portugueses, acompanhadas de opiniões e críticas que possam ajudar a bem discernir as complexas e intricadas produções jornalísticas e literárias de alguém muito importante que está, permanentemente, em reserva para a atribuição do Prémio Nobel da Literatura. Dessa hipotética atribuição, Saraiva se reserva a prerrogativa de admitir que são favas contadas. Permitam-nos o seguinte apontamento: Esta anotação é relevante. Aqui a deixamos com base na informação que o próprio, generosamente, trouxe ao conhecimento do público de Lisboa e dos arredores paisagísticos envolventes. Arredores, constituintes da Província que nas zonas saloias de Lisboa é considerada analfabeta, parasitária e campo mal-amanhado de subdesenvolvimento cultural. Acentue-se: Província que é muito desprezada e malvista na grande metrópole e, sobremodo, enfada os “inteligentes” fiéis das “capelinhas” dispersas pelas avenidas novas da alfacinha cidade…
02 - Há dias, Saraiva voltou a sair da casca com um artigo que deixou a malta atordoada.
Sobre o seu conteúdo nos debruçamos com elegante vénia e a devida pertinência.
Pois entretenham-se a ler com atenção. Vale a pena.
Ainda assim:
- se estão predispostos a usufruir o prazer da leitura dos textos de José António Saraiva;
- se jovens enamorados, simplórios e atrevidos, tendem a aproveitar os incentivos da escrita de Saraiva que, bem lida e melhor “digerida”, num ápice, os leva a darem o nó casamenteiro - singular efeito apurado em “descoberta” recentíssima do próprio milagreiro lisboeta (está na forja e na pessoa de Saraiva um émulo de Santo António para as celebrações nupciais, sob o abrigo do astro SOL, durante as festas de Junho do calendário festivaleiro de Lisboa);
- se dispostos a ocupar tempo na decifração de uma charada… que o festejado charadista nos trouxe inserida na crónica “O pior vendedor do mundo”.
Relaxem. Tomem fôlego. E lancem-se na extraordinária aventura de acederem a um “mundo” preenchido de sensacionais “descobertas”, insólitas confusões e enrodilhadas análises, do respeitável cidadão Saraiva. Por algum desígnio da Providência, lhe coube a honra, a glória e os proveitos, de nele se contemplar “a maior cabeça pensante de Portugal” - dele veio, em tempo oportuno, a notícia de tão excepcional atributo, em jeito de proclamação.
Que Deus vos proteja do brilho radiante e avassalador a que vão estar expostos… Mais ainda: que ELE vos dê ânimo para levardes a odisseia até ao fim…
03 - Saraiva radiante, confessa que sente prazer em ser enganado…
E “paralisado” não atina: Foi vendedor homem – o pior do mundo - que encontrei. “Não digo qual para não lhe estragar a vida. Por sinal uma mulher, embora ela o merecesse”…
04 - Quem como nós acompanha a carreira jornalística de José António Saraiva desde o primeiro número do “Expresso” em que o seu nome passou a figurar no cabeçalho como director, certamente que há muito tempo se terá dado conta da peculiar faceta da credulidade que distingue a sua multifacetada personalidade.
Aliás, o próprio tem-se empenhado em trazer a público relatos de episódios demonstrativos de incrível ingenuidade que chegam a causar perplexidade ao leitor desprevenido ou desconhecedor das actividades jornalísticas de José António Saraiva. De notar que correspondendo a todas as evidências e parafraseando a sua prosa ‘se pode dizer que Saraiva sente prazer em ser enganado’. Ele di-lo da seguinte maneira: “Em certos casos, quase se pode dizer que sentimos prazer em ser enganados”.
A esse ponto chegado o conhecido jornalista, temos que o pôr em sentido: Alto aí! Saraiva tenha dó… de si e de nós. Que o cidadão José António Saraiva aprecie “enfiar o barrete” é predilecção ou faculdade de alma sua, para a qual não somos tidos nem achados. Mas não se exceda nas generalizações. Sobretudo, não inclua os leitores como participantes desse específico prazer.
Ademais, como explicita no seu texto: Já “antigamente, nas feiras”, frente aos fantásticos vendedores, “em miúdo, eu ficava paralisado a ouvi-los”. Pois é. Pelos vistos habituou-se mal aos lugares pouco recomendáveis, às nocivas circunstâncias e às perigosas influências dos refinados aldrabões. As consequências saltam à vista desarmada… Ficou-lhe a crónica paralisia e a tendência para acreditar nos vendedores de banha da cobra e ainda hoje se queda a pensar com os seus botões sobre a classificação a dar às aldrabices de gente daquele tipo. E de tanto pensar resultou um assentimento invulgar agora dado à estampa: esses processos de vendas nem sendo ilegais, também não são fraudulentos. Isto é: Saraiva, contrariando a lógica, o bom senso e a semântica, considera não haver fraude onde existe o engano, o logro, a má-fé, o dolo, a burla, a astúcia, o embuste. Também assentimento estranho que nos deixa atónitos, atendendo ao facto de ser da autoria de um professor de jornalismo.
05 - Mas ainda não satisfeito consigo próprio, José António Saraiva traz a lume outra brilhante conclusão das suas cogitações: “Os grandes vendedores são aqueles que nos levam a pagar um dinheirão por coisas em que não temos qualquer interesse”. Ou seja: para o articulista Saraiva quanto mais mentiroso e desprezível for o vendedor e mais lorpa o comprador, maior grandeza terá o primeiro e grande regozijo sentirá o segundo. O que esta “saraivada” traduz? Simplesmente isto: o jornalista-arquitecto José António Saraiva confunde as coisas e com ligeireza impressionante faz a inversão dos valores em causa.
Depois, na mesma peça o autor, Saraiva, transmite a ideia que não distingue os géneros. O “pior vendedor do mundo”, supostamente encontrado por ele, ora é homem, ora é… “por sinal uma mulher”, talvez com pêlo na venta e com a intrigante particularidade anotada pelo cronista Saraiva sob a reserva de “embora não o merecesse”. Questionamos: Por sinal? Qual? E onde estava o sinal? Se não fora o sinal ele continuava a ser ele e não ela? E ele ou ela não merecesse o quê? Que Saraiva dissesse qual, o homem? Mas se este era mulher, como entender a observação? O “pior vendedor do mundo”? Como assim? Em que bases assenta a afirmação do pior vendedor (aliás, seria vendedora)? Repare-se na imprudência de Saraiva em declarar publicamente que encontrou o “pior vendedor do mundo” - um mundo circunscrito a um estabelecimento de bairro lisbonense. Estes os dados de uma charada que, inserida no artigo “O pior vendedor do mundo”, vai concitar enormes esforços de decifração aos leitores que tiverem essa disposição e infinita paciência.
Aqui para nós - o que também transparece com a insistência de Saraiva em citar o ”pior vendedor do mundo” em vez de a pior vendedora do mundo - ele terá querido salientar a supremacia do género masculino e deste modo evidenciando a sua faceta machista e a relutância em falar no feminino.
Enfim, se nos é permitida uma opinião, diremos que a crónica “O pior vendedor do mundo” é uma peça estupenda que devia figurar num elucidativo capítulo designado pela seguinte expressão: UM GENEROSO E VÁLIDO CONTRIBUTO PARA O ESTUDO DA BOA INCOMPREENSÃO, DA REGULAR CONFUSÃO E DA MELHOR INDEFINIÇÃO, NO USO DA LÍNGUA PORTUGUESA, de uma moderna Antologia da Literatura Portuguesa…
Fim
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