Leitor,
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SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

segunda-feira, setembro 20, 2021

 OPORTUNA NO INÍCIO DO ANO LECTIVO

CRÓNICA SOBRE O FALHANÇO DE

PRESIDENTE MARCELO, A 17/9/2018,

EM CELORICO DE BASTO

 

Brasilino Godinho 

18 de Setembro de 2018      

 

01. Ontem transmitida pela agência Lusa, escrita nos jornais, dita nas televisões e rádios, a seguinte declaração do Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República de Portugal:

 "Eu, como professor, tenho a certeza que os professores de Portugal são dos melhores do mundo, porque têm esperança, porque transmitem essa esperança, porque olham para o futuro e porque estão disponíveis.

Esta é uma afirmação do Presidente Marcelo proferida durante o cerimonial de arranque do ano lectivo em Celorico de Basto. 

 

02. Fiquei surpreendido com a bombástica afirmação do Professor Marcelo de que os professores de Portugal se realizam na vida profissional ao sublime ponto de serem classificados como dos melhores do mundo, por (quem imaginaria?) estarem possuídos de absurdas esperanças…

Só que não indicou qual a natureza dessa misteriosa amálgama de esperanças. Além de que, ainda-por-cima e mais adensar o mistério, os professores ainda se dariam ao desplante de transmitirem essas esperanças. Mas a quem? E em que circunstâncias?

A meu ver, que não estou por aí, algures no espaço urbano, pasmado a ver passar o comboio presidencial, a “sentença” do mais elevado magistrado do País peca por descabida, ser infeliz e desprovida do sentido de objectividade.

De tamanha desconformidade que a ela cabe propriedade de aplicação da expressão popular: “sem pés, nem cabeça.” E que surpreende ser de autoria de um cidadão mui inteligente e brilhante professor catedrático da reputada Universidade de Lisboa.

 

03. O Presidente Marcelo começou por evocar a sua qualidade de professor para dizer da sua “certeza que os professores de Portugal são dos melhores de mundo”. Desde logo: há que perguntar como chegou a tão apressada e inconsistente conclusão?

A resposta envolvida na vacuidade de uma representação mental abstracta, veio de supetão: são melhores “porque têm esperança, porque transmitem essa esperança, porque olham para o futuro e porque estão disponíveis”.

Fantástica a utilidade da esperança… Felicidade suprema: eles, professores portugueses sortudos, coleccionam esperanças… Presidente Marcelo dixit! Registe-se!...

 

04. Mais intrigante é o facto apontado pelo Presidente Marcelo de que eles, os  professores, olham para o futuro. Não seria recomendável que também olhassem para o passado?... E como poderão eles ignorar o triste e detestável presente? Mas pergunto eu: que futuro? Acaso um porvir venturoso, supondo estarem a visioná-lo no horizonte que os rodeia, quando se dão ao trabalho de tentar observá-lo com as potentes lentes de longo alcance de que, porventura, concedendo-se o benefício do problemático optimismo, serão privilegiados detentores?

 

05. Também de salientar que, como afirma o Presidente Marcelo, os professores estão disponíveis e também por essa confortável paz de alma, eles são dos melhores do mundo. Aos professores dirijo meus votos: não percam essa paz de alma… Poupem Sua Excelência. Com vista a evitarem-lhe o dissabor de, para o ano, ele vir informar a malta de que os professores portugueses são dos piores do mundo; porque perderam as famigeradas esperanças… vade retro Satana!

 

06. Em síntese: não sendo possuído de certezas como o é o Presidente da República, sobretudo quando encarna a pessoa do Professor Marcelo e a condição de comentador e professor Martelo das televisões, digo que julgo terem os professores ficado surpreendidos – tanto, quanto eu - com a classificação de melhores do mundo; exactamente porque atendendo (quem diria?) à excelência do multifacetado conjunto de esperanças que lhes foi atribuído, na extraordinária, espantosa e histórica, intervenção do Presidente Marcelo; certamente havida em momento de incrível inspiração de Sua Excelência.

 

07. Mais importa anotar que o Presidente Marcelo é livre de pensar seja lá o que for; mas mesmo, focando-me na sua qualidade de professor, atrevo-me a considerar que ele não tem a certeza (que apregoou) de que os professores portugueses serão dos melhores do mundo. Ainda, por cima partindo de tão enganosa e absurda argumentação/fundamentação. Aliás, eles nunca se empenharam em qualquer disputa correspondente a semelhante apuramento classificativo da sua valiosa actividade profissional. Nem dele precisam! Para creditarem seu meritório trabalho a Bem da Nação. Importa que o Poder e o povo reconheça o valor da actividade docente e dignifique o respectivo magistério. Com procedimentos consistentes e adequados.

 

08. Igualmente releva a circunstância de que os professores não estão em condições de transmitirem quaisquer esperanças, por que eles nem têm esperanças de um bom ou regular futuro para as suas actividades profissionais, para a progressão das carreiras e colocações definitivas nas escolas das proximidades dos seus lares e para uma existência tranquila. E a maioria da população portuguesa não ignora esse clima de insegurança, de desesperança, de inquietação e até de indignação, que prevalece na classe dos professores de todos os escalões do Ensino.   

 

09. Quanto a estarem disponíveis – não para acalentar as esperanças idealizadas pelo Presidente da República, mas para exercerem o professorado, claro que estão – nisso acertou o Presidente Marcelo. Só que é a profissão deles e têm direito ao exercício correspondente e a ajustada remuneração. Além de terem prementes exigências de que não podem prescindir: comer, vestir, calçar, residência, tratar da manutenção da família, educar os filhos, e assegurarem-se de dignas condições de vida na decorrência do dia-a-dia da sua existência que, geralmente, é de sobressalto e inquietação. A realidade da situação e de suas múltiplas condicionantes, força-os à inevitável disponibilidade aludida pelo Presidente da República. Uma verdade de Senhor De La Palisse…

 

10. Atente-se que as esperanças várias sobre um futuro risonho e atraente que, eventualmente, seriam tidas pelos professores e milhões de portugueses, há muito que foram de vela em Portugal.

Daí, que reitero: O presidente Marcelo Rebelo de Sousa, ontem, em Celorico de Basto, falhou. Precisamente, na descabida, exagerada, incongruente, e floreada prenda oferecida aos professores, como se fosse prémio de consolação; que, aliás, dele não estavam carecidos ou desejosos.                                                                   

Quem disser o contrário estará mergulhando num abismo de fingimento, de irrealismo, e de falsidade. A mal da Nação.

 

11. Mas, de imediato, observe-se que o Presidente Marcelo também está possuidor da certeza de que os outros professores do mundo serão uns desgraçadinhos e não devem aspirar a serem melhores que os seus colegas portugueses, dado que não têm esse maravilhoso predicado da esperança, que, sublinhe-se, é apresentado urbi et orbi como exclusivo apanágio dos docentes de Portugal.

Por outro lado, eles, estrangeiros de má sorte, estão impossibilitados de transmitir (aquilo que não têm): a esperança.

Pior para eles: nem sequer usufruem da visão do futuro, por manifesta e desinfeliz falta de esperança – a qual sobra resplandecente nos professores portugueses, segundo assevera o convencido e convincente Presidente Marcelo.

 

12. E, certamente, por a esperança faltar aos professores do mundo, é de presumir que nem estarão disponíveis para o-que-der-e-vier. Uma desgraceira para eles, num mundo avaro – uma felicidade para os colegas lusos, radiantes, no deslumbrante Portugal…

 

13. A este ponto chegado surgiu-me, repentinamente, uma luz no fundo do túnel da minha perspicácia.

E deu-se o caso que ela ilumina um ovo. Não o ovo de Colombo. Mas um ovo de invulgar natureza que designarei por OVO DE MARCELO.

Tão deslumbrante que me apetece parafrasear Camões. Por isso, aqui proclamo:

Cesse tudo o que do ovo de Colombo se canta; por que outro ovo, o de Marcelo, se alevanta.

 

14. Traduzindo por miúdos, em letra de forma, diga-se que Presidente Marcelo com a historieta dos professores portugueses serem os melhores do mundo, devido à extraordinária capacidade de cultivarem a esperança em elevadíssimo grau de operosidade, como nenhuns outros professores do mundo visionado por ele, abriu uma extensa e abrangente expectativa a todos os portugueses de, também eles, se tornarem os melhores animais racionais do planeta Terra. Bastará que, imitando os professores, eles se deixem seduzir pelas magníficas esperanças que foram intuídas pelo Presidente Marcelo.

 

15. O que significa que os indígenas lusos tirando favorável partido de tudo que de amargo, penoso e sofredor lhes é generosamente facultado pelo Governo e pelos políticos de refugo que temos por este Portugal espalhados, e por assim estarem reunidas as condições ideais para ascenderem ao estádio de êxtase místico - facilmente e sem esforço mental - vão dispor das esperanças que lhes são apontadas pelo actual Presidente da República.

 

16. Atendo a estes circunstancialismos ficou-se a perceber a razão e o alcance das políticas de austeridade e de calamitosa degradação das condições de vida do povo português, que têm vigorado nas últimas décadas.

Pois que se tudo fosse um mar de rosas não havia espaço para surgir e se instalar a esperança (com seu quê de misteriosa e indefinida) nas cabeças (ocas, muitas delas) dos cidadãos de lusa identidade.

 

17. Fica demonstrado que, nos altos patamares da República Portuguesa, está estabelecida uma política consertada no sentido de a sociedade portuguesa viver angustiada; pois que ela será uma condição sine qua non para os portugueses se sentirem embriagados com as várias esperanças dadas à estampa pelo Presidente Marcelo e crentes que, com elas e por elas, serão - num dia de São Nunca à tarde - os racionais animais mamíferos de uma melhor coisa ou qualificação que, não se sabendo a natureza se fica, no entanto, aguardando que Sua Excelência fará o obséquio de dar público conhecimento, de modo a elucidar a malta…

 

18. Igualmente, até nesse aspecto, Presidente Marcelo, no papel de professor e exercitando o magistério da docência, desperta a curiosidade e inculca as esperanças na malta…

Aqui escrito em termos de anotação o OVO DE MARCELO.

E, claro, que o autor da presente crónica, também ele - de momento - contagiado com a esperança… de se ter bem explicado para bom atendedor; o qual, se presume ser suficiente entendedor… das misteriosas e atraentes esperanças do Professor Marcelo, investido na alta condição de Presidente da República.