MAU ESTADO DA NAÇÃO
DISSERTANDO SOBRE ELE
Brasilino Godinho
13 de Junho de 2021
Na maior potência de âmbito mundial à escala maçónica, Estados Unidos da América, é costume todos os anos o presidente efectuar um discurso sobre o Estado da Nação. Em Portugal, confinados na nossa pequenez, nem se tem feito reparo de as nossas presidenciais figuras não imitarem o seu homólogo americano.
Mas entenda-se que nem é preciso vir à tribuna do Palácio de Belém a figura presidencial fazer detalhado relatório sobre a situação de desgraças muitas e várias que afligem os nativos portugueses, porque estes sentem nos corpos e nas almas as agruras do viver quotidiano – o que é condição suficiente de maltrato de modo a suscitar-lhes repulsa por demasiados palavrórios. E o que está à vista, sentido e muito pressentido por inúmeros portugueses nem precisa de presidenciais adjunções ilustrativas.
Aliás, a maioria dos portugueses pouco se importa com o debate das ideias, o conhecimento/saber das matérias e os estudos das questões; portanto, e - naturalmente - está um qualquer presidente dispensado do incómodo de vir a terreiro perorar sobre a situação do País, que ainda há nome de Portugal. Basta-lhes o enfado de ver e ouvir a rapaziada dos partidos todos os dias e a qualquer hora a palrar nas televisões sobre o sexo dos anjos e trocando galhardetes de mau gosto entre si e os governantes.
Por outro lado aos indígenas lusos o que lhes interessa mesmo é discutir futebol, peregrinar até às capelas e santuários, e ouvir nas tascas e nas rádios cantar o fado castiço de Alfama e da Mouraria.
Além de que necessitam - como pão para a boca faminta – que lhes facultem leituras das numerosas revistas cor-de-rosa; nas quais se deleitem e instruam(…) com as fofocas das Avenidas Novas de Lisboa; as aventuras das Lilis, festejadas divas ilustres da Linha do Estoril; os desempenhos e enredos amistosos mais ou menos artísticos das actrizes e actores do teatro lisboeta; as fotos dos biquínis e soutiens das Ivones, artistas das badaladas interpretações das séries televisivas; as soberbas imagens da criatura Marcelina a banhar-se na baía de Cascais; os devaneios amorosos dos conhecidos atletas dos grandes clubes, sem esquecer as observações acerca das hipotéticas transferências dos jogadores identificados com as cores benfiquistas, portistas, sportinguistas.
Ainda, reportando ao futebol, há que destacar as audições/visões das mesas redondas, quadradas, oblíquas, rasteiras, onde sob elas se polemiza ardorosamente sobre os pontapés, cabeçadas, cotoveladas, livres directos e indirectos, apitadelas descabidas ou fora dos contextos, encontrões desenquadrados aos árbitros, que - numa conjunção de todo imprevista - se registam nos desafios ocorridos em Portugal, na semana anterior ao dia em se processam em termos apoteóticos as sobreditas mesas de estimação de milhares praticantes de bancada do tão emblemático e, por vezes, obsceno espectáculo da bola.
Enfim, aqui retratado o estado da Nação Portuguesa. Nele subentendido, porque muito em evidência a todos os momentos, que agravado pelos efeitos trágicos da Pandemia Covid-19 que infernizam as vidas de milhões de cidadãos nativos de Portugal.
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