Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

domingo, agosto 16, 2020

 

482. Apontamento

Brasilino Godinho

16/Agosto/2020

 

BRASILINO GODINHO, OUSADO,

DEBRUÇA-SE SOBRE SI PRÓPRIO

II Parte

 

No p.p. dia 02, do corrente mês, efectuei uma limitada introspecção da qual fiz relato no meu 470. Apontamento. Levei essa acção até ao arranque da minha fase de vida adulta.

 

Hoje, prossigo esse propósito de me debruçar sobre mim próprio e aqui, na presente II Parte, transmito as impressões recolhidas.

Desta vez vou acompanhando o relato à medida que avanço pelo longo percurso da provecta existência.

 

Começo por me situar na primeira experiência profissional: um estágio (sem remuneração) de desenhador, na Secção de Engenharia, da Câmara Municipal de Tomar. Foi um período de dois anos de enriquecedora experiência de vida - aprendizado e aprimoramento técnico; apreensão das normas administrativas e dos costumes políticos/autárquicos; prática de relações humanas.

 

Desse tempo, retenho em memória a surpreendente faceta de um cidadão tomarense, Leonel Carvalhais, detentor de uma memória extraordinária. De vez em quando chegava à repartição, pedia licença para entrar, saudava os circunstantes e obtida a autorização, sentava-se junto a uma máquina de escrever e dactilografava a lista completa dos números dos telefones do concelho de Tomar, por ordem alfabética dos nomes de seus titulares, sem recorrer a qualquer apontamento. Simplesmente fantástico!

 

Após o referido estágio e passagens pontuais de um mês no Tramagal, pelos serviços técnicos militares ocupados na construção do Campo Militar de Santa Margarida; de seis meses em Castelo de Bode, na Delegação da Comissão de Fiscalização dos Grandes Aproveitamentos Hidro-Eléctricos e de dois anos nos serviços técnicos da firma luso-suíça Conradschok – Moniz da Maia, Duarte & Vaz Guedes, L.ª, construtora da Barragem do Cabril (sempre como desenhador de construção civil e de topografia); em 1953 participei num concurso de provas práticas para admissão de desenhadores de 3.ª classe do quadro da Direcção Geral dos Serviços de Urbanização; as quais, foram realizadas no Instituto Superior Técnico, em Lisboa.

Eram 50 concorrentes. Fui classificado em 6.º lugar. Em fins de Abril fui consultado se aceitava lugar na Direcção de Urbanização dos Açores. Aceitei e no dia 07 de Maio de 1954 embarquei no paquete Carvalho Araújo com destino a Ponta Delgada, onde permaneci dois anos.

 

O meu “baptismo de fogo”, na direcção de Urbanização dos Açores, foi copiar à mão os mapas das nove ilhas açorianas. Tarefa difícil, muito complicada. Dado que as variações de temperatura provocavam deformações no papel vegetal; o que inviabilizava a correcta representação gráfica das curvas de nível. Suei as estopinhas. Mas consegui, fazer trabalho fidedigno.

Valeu-me a experiência adquirida no gabinete técnico da firma empreiteira construtora da Barragem do Cabril. Nela, a sala de topografia tinha a temperatura regulada como forma de assegurar que as peças desenhadas não tivessem variações, uma vez que as medições dos volumes de escavação e de betonagem, principalmente das fundações, eram calculados pelas medições superficiais das respectivas curvas de nível. Por pequena que fosse a variação dimensional da peça desenhada ela se reflectiria, sobremaneira, nos volumes e nas verbas de pagamento da obra.  

 

Tempo de vivência em Ponta Delgada. Foi uma estadia memorável.

 

Na cidade micaelense conheci aquela que foi minha muito querida mulher, Luísa Maria Albernaz Tápia, até à data do seu passamento a 02 de Junho de 2008.

 

Regressei ao continente no mês de Junho de 2056, transferido a meu pedido para a Direcção de Urbanização de Leiria.

 

Casei a 08 de Junho de 1957, na Basílica de Fátima e fixei residência na cidade de Leiria, onde nasceram meus dois filhos: Jorge e Luís.

 

Decorrido um ano (1958), tomei uma decisão importantíssima: a de me dedicar à elaboração de projectos de vias rodoviárias sem recorrer a qualquer consulta de engenheiros.

 

Nunca tendo frequentado estabelecimentos de ensino, dos níveis médio ou superior de Engenharia Civil, todo o trabalho de concepção e elaboração de projecto era de minha autoria; quer no exercício das funções oficiais, quer na actividade desenvolvida a título particular. No primeiro caso, os directores dos serviços assinavam os projectos; no segundo caso, tinha que pagar a engenheiros as assinaturas dos projectos – dado que o autor, Brasilino Godinho, não tinha a habilitação legal, académica, de engenheiro.

 

Para atingir esse patamar de conhecimento no domínio de engenharia rodoviária, desenvolvi profundos esforços de autodidacta, na aprendizagem da teoria, em conjugação com as actividades de acompanhamento das actuações de distintos engenheiros: Gonçalves Lisboa, Mário Ulisses da Costa Valente e Egas de Fontes Pereira de Melo Monteiro de Barros 

 

E assim foi acontecendo de exercício profissional de engenharia rodoviária, por dezenas de anos, até à altura que meus dois filhos, detentores do curso de Engenharia Civil, pela Faculdade de Engenharia do Porto, passaram a assinar os projectos de infra-estruturas rodoviárias e urbanísticas, elaborados pelo pai e que neles também colaboravam.

 

Criado o gabinete TAPIA GODINHO-ESTUDOS E PROJECTOS DE ENGENHARIA, L.ª, com sede na Av. Dr. Lourenço Peixinho, cidade de Aveiro, que funcionou entre 02 de Abril de 1983 até 31 de Dezembro de 1990, sob a orientação do seu fundador Brasilino Godinho, ele proporcionou ensejo de ordem prática para meus descendentes aprofundarem conhecimentos e prática profissional que bastante valia conferiu às suas específicas qualificações profissionais.

 

Uma nota devo inserir neste 482. Apontamento: os meus leitores nem imaginam as consequências que se avolumaram, em crescendo, no decurso da minha vida profissional; quer no âmbito dos serviços em que era funcionário, quer no dia-a-dia da vivência em sociedade.

 

O facto de Brasilino Godinho não dar cavaco (técnico) a engenheiros suscitava, nalguns deles, inveja, ódio, irritação e incómodo que mal suportavam. Daí, que movessem vários, incríveis, expedientes persecutórios sobre a criatura brasiliana.

 

Tantas grotescas, patéticas, estúpidas e violentas, foram as perseguições operadas por essa gentalha, visando atingir, prejudicar e mesmo desmoralizar e quebrantar o ânimo e capacidade de resistência de Brasilino Godinho, que posso asseverar: elas constituem material para compor uma longa narrativa de inúmeras páginas.  

 

Anoto que pessoas amigas, inclusive, presidentes de câmaras municipais, que conheciam o clima de hostilidade criado pelas tais mesquinhas criaturas e em que estava mergulhado, se admiravam como conseguia aguentar e resistir sem quebras de ânimo – contando só comigo e sem desabafar com a minha mulher, pois que poderia afectar-lhe o estado de espírito que pretendi sempre preservá-lo sereno, ao abrigo de embaraçosos sobressaltos.

 

Leitor desprevenido interrogar-se-á: Porquê, Brasilino Godinho, manteve esse distanciamento técnico relativamente a quantos dispunham do canudo académico de Engenharia Civil?

Por uma simples e determinante razão: em 1958 ele decidiu que jamais solicitaria a qualquer engenheiro opinião, parecer ou orientação, concernente à prática de elaboração de projectos de infra-estruturas rodoviárias e urbanísticas.

 

Uma posição assumida e que nunca foi quebrada. E tomada como ponto de honra que Brasilino Godinho respeitou e manteve inalterável até à data da reforma e abandono de qualquer actividade correlacionada com engenharia rodoviária.

 

Chegado a este ponto e dispensada a evocação do que foi um intenso trajecto de profissional de engenharia rodoviária e um percurso académico iniciado a 20 de Outubro

de 2008, com a idade de 77 anos e concluído aos 85 anos, com o alcance dos graus de Licenciatura e de Doutoramento, concedidos pelas Universidades de Aveiro e do Minho - por esses rumos de vida, reitero, serem facetas pessoais muito divulgadas pelos órgãos da Comunicação Social nacionais e estrangeiros, em 2013, 2017 e até à actualidade, julgo apropriado encerrar a introspeção que vinha fazendo com meu agrado pessoal. E que desejei partilhar com os leitores que se dignam prestar atenção aos meus escritos.