479. Apontamento

Brasilino Godinho

13/Agosto/2020

 

HAVIA QUE INVIABILIZAR AS PETIÇÕES

PORQUE ELAS AFECTAM A MOLEZA DOS

RESIDENTES NO PALÁCIO DE S. BENTO

 

DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA ELES, RESSABIADOS, DIRÃO QUE É UM DESMANCHA-PRAZERES. 

QUE CHATICE!

 

Os residentes/ocupantes do Palácio de S. Bento (famigerada Assembleia da República), sito em Lisboa, cuidam-se com extrema benevolência para consigo próprios.

E ao que tudo indica e as práticas têm evidenciado, estão todos os dias naturalmente ocupados: as senhoras pintando as unhas, colocando batom nos lábios e lendo as fofocas insertas nas revistas cor-de-rosa e os senhores consultando na Internet as últimas notícias futebolísticas e também lendo as historietas de banda desenhada.

Por obrigatório azar funcional, nos intervalos, têm que debater com vozearia, incontinência verbal e, às vezes, fazendo gestos obscenos, as melindrosas questões programadas para discursivas exibições no plateau do circo político, vulgarmente conhecido por hemiciclo da Assembleia da República.  

Daí que ultimamente os citados ocupantes do conhecido palácio beneditino se tenham apercebido que a sua pacatez e rotinas habituais estavam seriamente ameaçadas face ao teor de uma lei demasiado permissiva, de que até agora se mantinham alheados quanto a essa desagradável característica funcional.

Tal lei, atente-se no desaforo (…): faculta petições à Assembleia dos repúblicos que nela assentam lugar e alimentação de superior qualidade, desde que cada uma seja subscrita por 5000 cidadãos.

Então, os grupos do PS e PSD propuseram que a lei fosse alterada pois que assim o impunha o habitual, cómodo, funcionamento da Assembleia. A falange do PSD sugeriu que qualquer petição deveria ser assinada por 15000 cidadãos eleitores. A Assembleia fixou o número de peticionários em 10000, na expectativa de que tão avantajado número de peticionários já per se inviabilizaria a apresentação de petições.

 

Proposta de lei encaminhada à Presidência da República, foi chumbada pelo presidente Marcelo, alegando que desvirtuava o carácter democrático do regime português.

 

Ficou assim demonstrado que é máxima conveniência do Poder existente salvaguardar as aparências de que temos Democracia em Portugal; sobretudo para inglês ver e União Europeia agradar, com eventual benefício de alguns milhões de euros que caiam, suavemente e de tempos a tempos, sobre a mesa do Orçamento.

 

Por outro lado, em termos do faz-de-conta que Portugal é uma Democracia, ficaram os deputados a chuchar no dedo e desacautelados quanto a hipóteses de serem incomodados pelas reivindicações de 5000 atrevidos portugueses; os quais, abusivamente predispostos a perturbar a moleza de espírito das criaturas que se aquietam no hemiciclo, se passeiam nos Passos Encontrados (por que não Perdidos!) e se banqueteiam nos dois restaurantes de luxo da dita Assembleia. Melhor apreciado: que comodamente se sentam, sôfregos, à mesa do ORÇAMENTO.