A PROPÓSITO DO NOVÍSSIMO ABONO
PARA DEPUTADOS DA ASSEMBLEIA
DA REPÚBLICA PARTIDOCRÁTICA;
CRIADO EM TEMPO DE PANDEMIA.
POIS QUE, EM S. BENTO, O VAZIO DA ÉTICA
É IMUTÁVEL COMO A SUCESSÃO DOS DIAS
“Eis, ali, em S. Bento, à vista de todos, espelhada
a grande contradição: numa casa em que a maioria dos ocupantes não preza a
ética, como será possível constituir uma comissão ética?
Para além do conhecido historial dos atentados à
ética perpetrados no Palácio de S. Bento, ainda agora o caso de Maria Elisa,
conhecida jornalista da RTP, que meteu baixa para tratamento médico, é exemplar
do à-vontade com que se mandam às ortigas os preceitos éticos e confirma as
solidariedades corporativas que se permutam entre as rapaziadas dos vários
partidos, unidas no objectivo comum de repartirem entre si os aproveitamentos
possíveis e se desculparem uns aos outros das prevaricações que todos cometem,
na cautelosa perspectiva da troca de favores: pataca a ti, pataca a mim; hoje
vos desculpamos, amanhã sereis vós a desculparem-nos. Fica tudo em família…
A história conta-se em breves palavras: a
jornalista Maria Elisa, do PSD, quando assentou na Assembleia da República
pretendia acumular a função parlamentar e a actividade na RTP. Não conseguiu.
Recentemente, meteu baixa no Parlamento para tratamento médico e, segundo o que
foi noticiado e não desmentido, no mesmo dia em que formulou o pedido
apresentou-se ao serviço da RTP.
Levantaram-se vozes de censura. De imediato, veio à
estacada o chefe de um grupo parlamentar. Quem? O responsável do Partido Social
Democrata? Não! Quem, célere, se apresentou a assumir as dores da deputada em
causa foi… António Costa, chefe do grupo parlamentar do Partido Socialista.
Caso para comentar: cada um sabe onde elas (as cólicas) lhe mordem…
Moral do historiado: D. Maria Elisa não tinha
condições para fazer os tratamentos enquanto deputada; passava a tê-las quando
em serviço da televisão estatal.
Bonito de se ver! Acontecimento indicador de
agilidade no pensamento, de eficácia na acção, de acerto no tratamento e… de
excelente pontaria ao alvo de “repouso” e convalescença…”
Assim se especula com a ciência dos costumes nos
Passos Perdidos, da Assembleia da República. Neles, a ética dos deputados corre
fugidia, esconde-se envergonhada e, amiúde, é escarnecida.
(…) se alguém pensar na limpeza ética da Assembleia
da República tome especiais prevenções… e provisões! Não vá o Diabo meter-se de
permeio…”
(In A QUINTA LUSITANA, Brasilino Godinho, pp.
270-271, Novembro de 2004)
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