BRASILINO
GODINHO
88.º
ANIVERSÁRIO NATALÍCIO
ESTE
ANO POR SER DE BONITA CAPICUA COMEMORO MEU ANIVERSÁRIO
Com a publicação do 284. APONTAMENTO
iniciei o ciclo das comemoraçõe292/A.
293. APONTAMENTO
Brasilino Godinho
24/Outubro/2019
RETALHOS DA MINHA VIDA FAMILIAR
(Continuação do 292/B. Apontamento)
Nasci em Tomar, na Rua Joaquim Jacinto, antes designada Rua
Nova e antiga Rua da Judiaria do tempo de El-Rei D. Manuel I e cerca da
Sinagoga de mais vetusta existência em Portugal. No entanto, informo que não
tenho ascendência judaica.
Também não partilho qualquer opção religiosa com os meus
semelhantes. Embora tenha sido mais ou menos praticante da Religião Católica
Apostólica Romana, até à adolescência, seguindo a tradição familiar.
Desse tempo de minha religiosidade conservo na memória três
factos, aspectos ou situações, a saber:
1. Na infância, as idas às missas do mia-dia, aos domingos,
na companhia da minha avó materna. A duração da missa custava-me a suportar
ajoelhado e pior acontecia com a adoração do Santíssimo na respectiva capela
lateral e que era celebrada em continuidade da missa efectuada no altar-mor da
Igreja de S. João Baptista. Era um tormento porque a avó obrigava ao sacrifício
de me conservar ajoelhado e o cónego Adelino consumia imenso tempo a recitar as
infindáveis ladaínhas e o acto religioso tardava demasiado em ter fim.
Geralmente, saía-se da igreja às 13:30 horas e o pequenote Brasilino sentindo
grande larica. Uma estopada de todo o tamanho.
2. Também na infância tinha um vizinho, ancião, Sr. Delgado,
com o qual criei uma grande amizade que era correspondida. Frequentava a sua
casa muitas vezes – o que estava facilitado pela proximidade fronteiriça das
respectivas residências. O Sr. Delgado tinha muita estima pelo menino Brasilino
e com alguma regularidade o convidava para jantar com a sua família. O
Brasilino tinha prazer de se sentar à mesa numa cadeira de criança, rodeado das
familiares do Sr. Delgado e de ser acarinhado por todas elas.
Em dada altura houve na cidade uma procissão algo grandiosa.
Minha mãe providenciou preparativos para o seu menino participar no cortejo. O
menino Brasilino que devia ter entre dois e três anos de idade ficou
entusiasmado e foi dizendo à mãe que queria ir no cortejo pela mão do Sr.
Delgado. Minha mãe adquiriu fato de anjo e solicitou os serviços de uma senhora
cabeleireira que, actuando na nossa residência, me fez um penteado artístico
muito encaracolado e que não me agradou. Logo por aí começou o primeiro desaire
correlativo à procissão. Porém, o pior estava para surgir inesperadamente na
tarde da festividade religiosa do dia seguinte ao enfeite da cabeleira.
Uma hora antes da saída da procissão o menino Brasilino,
acompanhado da mãe, já se encontrava próximo do portal da igreja paroquial,
encostado à parede para tirar uma fotografia. A mãe ajeita-lhe a pose e insiste
que ele segure o colar com a mão direita em posição que o filho não estava
disposto a aceitar. Enfim, apesar das dificuldades dos arranjos fotogénicos lá
foi conseguida a fotografia. Então o menino Brasilino, um pouco inquietado,
pergunta pelo Sr. Delgado. A mãe informa-o que o Sr. Delgado não apareceu
porque tem de levar o neto. O Brasilino começa a chorar e diz que fora
combinado ser conduzido pelo seu amigo.
A mãe tenta convencê-lo a participar e a encaminhá-lo para a
entrada da igreja. Seus esforços são baldados, Entretanto, prossegue o choro do
filho e ela não tem outra alternativa que não seja a do regresso a casa. Uma
frustração completa para ambos.
3. Ter sido escuteiro, filiado no Corpo Nacional de Escutas,
no período de 1945 a 1947, foi agradável e gratificante. Porém, com o senão
incomodativo das forçadas participações nos cortejos religiosos.
O período da Segunda Grande Guerra (1939-1945) deixou-me
tristes recordações. Havia enormes carências de abastecimentos de géneros
alimentícios e de produtos vários necessários no viver quotidiano das pessoas.
Para os adquirir, quando eles surgiam nos estabelecimentos, formavam-se longas
bichas; nelas me incorporava com desespero suscitado pelas horas de espera para
ser atendido. Algumas vezes caíram desmaiadas pessoas ao meu lado. Nem me quero
recordar dessas terríveis circunstâncias.
Com os meus pais constituíamos uma família unida; embora
vivendo as contingências decorrentes dos parcos recursos materiais.
Hei sido um filho obediente e respeitador que nunca tratou
os progenitores por tu, nem por eles, em qualquer tempo, fui castigado. Só uma
vez o ia sendo com bofetadas dadas pelo pai. Mas livrei-me, por seu desaire.
Conto:
Meu pai não queria que eu jogasse à bola. Um dia, tinha
catorze anos, surpreendeu-me a jogar no campo onde agora se localiza o Mercado
Municipal. Colegas me chamaram a atenção de que ele se encontrava à entrada do
mesmo. De imediato, lanço-me numa longa corrida em direcção a casa, situada no
centro histórico da cidade. Chegado à residência, subo a escada do andar
superior e vou sentar-me encostado a uma máquina de costura e fico aguardando a
vinda do pai. Eis que ele chega, vem direito a mim, fala e zás: lança-me uma
forte bofetada que, para minha felicidade, não atingiu o alvo. Pelo facto de
ela ter incidido na cabeça da máquina de costura. Meu pai, sofrido, decerto com
horríveis dores, voltou-me as costas e desandou. Nem, nesta altura, sofri
castigo. Sorte redentora…
Uma nota quero inserir: se filho obediente, por norma e
habituação, também fui continuamente desobediente em jogar à bola com muita
frequência, enquanto frequentei o curso da Escola Industrial e Comercial Jácome
Ratton. Chegava a aproveitar a faculdade de faltar uns tantos dias por
disciplina, para jogar à bola. Gostava de praticar esse desporto com os
colegas, apesar de ser um praticante que deveria ser classificado de nulidade.
Como já referi nos precedentes APONTAMENTOS sobre RETALHOS
DA MINHA VIDA vivendo em Leiria durante sete anos, em princípios de Fevereiro
de 1963 transferi residência para a cidade de Aveiro, por ter sido nomeado para
desempenhar funções nos Serviços Técnicos de Fomento, da Junta Distrital de
Aveiro.
Ao longo dos últimos 56 anos, sempre fixado na cidade
aveirense, inúmeros RETALHOS da minha existência têm sido expendidos através
dos livros publicados (especialmente a obra VIDA UNIVERSITÁRIA DE BRASILINO
GODINHO), das minhas crónicas e das entrevistas que tenho dado a jornais,
revistas, rádios e televisões, especialmente nos anos de 2012, 2013, 2017 e
2018, relativas, respectivamente, à minha Licenciatura em 14 de Dezembro de
2012 e ao meu Doutoramento a 05 de Julho de 2017.
Assim tendo acontecido, julgo supérfluo trazê-los (tantos
RETALHOS) à colação nestes APONTAMENTOS, integrantes do ciclo das comemorações
da bonita capicua (88 anos de vida) que – como é do conhecimento de bastante
gente – amanhã, dia 25 de Outubro de 2019, tem plena concretização.
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