108. APONTAMENTO DE
BRASILINO GODINHO
03 de Março de 2018
O INSÓLITO CONTRASTE
01. Espertas, as baratas da Covilhã.
A notícia hoje transmitida em
Portugal é sóbria e interessante…
As baratas instalaram-se na
cozinha do Hospital da Covilhã.
Facilmente se conclui que elas
sabem juntar o útil ao agradável.
Arranjar gratuitamente, à custa
do Estado, acomodação, abrigo, alimentação e eventual tratamento, num local de
assistência médica que lhes está acessível e se tornará necessária se, por
acaso ou distracção, ousarem entreter-se demasiado tempo a enfartar a barriga;
é iniciativa expedita e oportunista que se saúda com louvor ao inato espírito
de bem preservar a espécie.
Por outro lado, realce-se o
requinte de nem faltar o aquecimento que lhes é naturalmente facultado pelo
local onde se alojaram; o qual as ajudará a suportar o frio, agora intenso
naquelas paragens.
02. Infelizes, os velhos de Faro.
A notícia correu mundo português.
Por força das suas fragilidades
existenciais os idosos de Faro, neste tempo de frio generalizado, procuraram
acomodação, abrigo, alimentação e tratamento médico, na unidade hospitalar da
cidade de Faro.
Foram escorraçados. A entidade
gestora determinou que tivessem imediatas altas (autorizações de saída) e que
nem fossem sujeitos aos exames de diagnóstico e de tratamento.
Conclusão: em Portugal já
chegámos ao ponto de as baratas serem acolhidas com cortesia e atenções num
hospital (Covilhã); entretanto, em simultâneo, as regalias e cuidados de
natureza semelhante são ostensivamente negados aos seres humanos da terceira
idade, noutro estabelecimento hospital (Faro).
Porventura, isto denotando o tipo
de medidas que os poderes vigentes estão aplicando como sucedâneas das
previstas na Declaração Universal de Lisboa, de 22 de Setembro de 2017, referentes
à protecção e ao respeito pela dignidade da pessoa idosa.
Nota marginal - é de esperar que,
do ministério da Doença, surja a inaceitável justificação atinente a este
contraste: fica muitíssimo mais
barato hospitalizar seres irracionais de pequeno porte, como são as baratas e
com a vantagem de todo o aparato de atracção turística; do que hospitalizar
animais racionais de grande porte, como são os velhos, que de maneira nenhuma
se constituem como admirável quadro de garbosa decoração hospitalar ou de bonita
paisagem urbana…
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