Folha de
S. Paulo
Ora Pois
Um olhar brasileiro sobre Portugal
Por
Giuliana Miranda
Concluir
um doutorado é um momento marcante para qualquer estudante. Mas, em Portugal, a
defesa de uma tese na Universidade de Aveiro foi recheada de ainda mais
emoções: o candidato a doutor tinha 85 anos.
Ingressar
no ensino superior sempre esteve nos planos de Brasilino Godinho, mas a vida
sempre o levava para um caminho diferente.
Primeiro,
foi a questão financeira e a necessidade de trabalhar desde muito jovem.
Depois, o casamento e o nascimento dos filhos.
“A
decisão de seguir um curso universitário foi tomada no ano de 1947, tinha 16
anos de vida.
Durante
60 anos não foi possível aceder à universidade por não ter condições
financeiras e porque havia que atender às prioridades da família e da educação
e formação universitária de dois filhos”, conta.
Em 2008,
viúvo aos 77 anos —já aposentado e com os rebentos já formados em engenharia
civil— Brasilino resolveu finalmente ir atrás do antigo sonho da universidade.
Prestou o
vestibular e foi aprovado para o curso de letras da Universidade de Aveiro, no
centro-norte de Portugal.
Dedicado, ele logo foi
encorajado pelos professores a seguir na pós-graduação.
Brasilino Godinho fotografado no dia em que apresentou a sua tese. Foto da Universidade de Aveiro
Como
terminou a licenciatura com uma nota muito boa —15 em na escala de zero a 20 do
sistema de ensino português—, ele pode pular o mestrado e se matricular
diretamente no doutorado.
Com a
tese “Antero de Quental: um Patriotismo no Porvir de Portugal”, Brasilino diz
querer ajudar na reflexão sobre a situação atual de seu país, que, segundo o
recém-doutor, passa por “uma grave e abrangente crise” em vários sentidos,
“Foi
também no sentido da tese se constituir como válido instrumento de despertar a
sociedade para a premente necessidade de recuperar os valores e as lições do
magistério moral, cívico, cultural e político de Antero de Quental”, explica.
Embora se diga realizado e
pleno com o doutorado, Brasilino não pensa em parar.
Ele se
considera um “jovem de quase 86 anos de idade” e espera “ser exemplo e
inspiração para as novas gerações e… para os idosos que tenham possibilidade de
continuar ativos”.
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