Título concernente a:
Idiotice? Iliteracia?
“Vitória de Marine Le Pen nas regionais.
França acorda em choque”
Brasilino Godinho
O
título acima citado foi inserido num jornal de Lisboa. É na sua formulação uma
confrangedora demonstração da ligeireza e imprecisão com que são transmitidas
as informações ou elaborados os textos publicados em alguns órgãos da
Comunicação Social.
Vejamos
o caso em apreço.
O
título dá a notícia de que Marine Le Pen ganhou as eleições regionais em
França. Certo!
Mas
segue-se a observação: França acorda em choque que,
no mínimo, se pode considerar fantasiosa. Inteiramente absurda. Disparatada!
Pretensiosamente: sensacionalista.
Há
que nos interrogarmos: França acorda em choque? O que seria, concretamente, a
França acordar em choque? Um País, um Estado, uma Nação, entidades algo
abstractas nas suas específicas abrangências colectivas, como se quedavam elas
em estado de sonolência até que no p.p. domingo, de supetão, são despertas em choque? - de que não é feita referência ou indicação da natureza do mesmo.
Mas
se concedermos o benefício de admissão de várias especificidades da França e as
catalogarmos em vários tipos morfológicos, surge-nos a dúvida: que França ou
sua parte componente acordou em choque?
A França do grupo formado pelos votantes de Marine Le Pen? Então essa gente
quando votou estava dormindo? E à noite acordaram em choque no momento em que foi anunciada a vitória da lista na
qual haviam votado?
E
os votantes do Partido (Les Républicains, LR) de Nicolas Sarkozy e os do PS, de
Hollande, também despertaram em choque?
Então não se previa que Marine Le Pen iria ganhar? ´
E
se republicanos e socialistas estão combalidos após o choque convenhamos que, somados, não são a maioria da população
francesa e nem podem ser confundidos com a França na plenitude da sua
identidade.
Por
outro lado, existem os abstencionistas e os franceses que votaram Marine Le Pen,
estes que não estando sofridos pelo choque
que lhes passou ao lado esquerdo e embora festejem os resultados eleitorais,
não podem corporizar o todo da nação francesa e proclamarem que a França está
eufórica.
Portanto,
não há sentido, nem aplicação factual dizer-se que a França está em estado de choque, do mesmo modo que não
é lícito nem verdadeiro proclamar-se que a França está em estado de graça.
A
verdade assenta no facto de a nação francesa (e não a França) estar dividida em
dois campos: um, em que se celebra a vitória de Marine Le Pen; e outro, que lamenta
amargamente e em pânico o triunfo da extrema-direita de Le Pen – o que
aconteceu em conjugação com a derrota comum de Nicolas Sarkozy e François Hollande.
Definitivamente:
a França não dorme, nem acorda. Vive! Imutável! Majestática!
E,
claro que alheia aos choques que atingem
alguns inquietados e pouco amadurecidos espíritos da lusa terra…
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