A componente maquiavélica
da certeira razão de Marcelo
Brasilino Godinho
23
de Outubro de 2015
Em finais de 2003, quando
escrevia a página 26 da obra A QUINTA LUSITANA, estive tentado a
aludir ao que me parecia ser a componente maquiavélica das sucessivas
contradições de Marcelo Rebelo de Sousa, inclusas nas atitudes que ia tomando
sobre o político, seu correligionário, Aníbal Cavaco Silva.
Não concretizei o intento para
não ser acusado de exagerado e fantasista. Decidi esperar pela passagem dos
anos, sempre convencido que haveria de chegar a altura para, imitando a criança
do conto de Andersen, vir a terreiro dizer que o rei vai nu.
Hoje e após o inqualificável e
verrinoso discurso à nação do presidente Cavaco Silva, é a altura de abordar o
assunto.
E porque citei o discurso de Cavaco Silva anoto que três
candidatos à Presidência da República (Sampaio da Nóvoa, Henrique Neto e Maria
de Belém) já se pronunciaram publicamente, em termos muito condenatórios, sobre
tal destrambelhada e insensata peça discursiva de um presidente que, na
circunstância, renegou os deveres básicos, constitucionais, do seu elevado
cargo presidencial.
Isto aconteceu enquanto Marcelo
Rebelo de Sousa - já titulado detentor da função presidencial, por inusitada mercê
do “Partido da Comunicação Anti-Social” - tem mantido um comprometedor silêncio;
o qual, repercute ruidosamente pelas urbanas cidades e pelas quebradas mais
remotas do território nacional. O que não sucede por acaso!
É que se Cavaco Silva tem sido
tão inepto, como ontem evidenciou de forma clamorosa, isso representa a
confirmação das fraquezas há muito detectadas na criatura pelo seu companheiro
de partido: Marcelo Rebelo de Sousa.
Certamente que tendo isso bem presente, o candidato/presidente Marcelo tem todo
o interesse que não lhe seja apontada a condição que ora aqui expresso: a de ele ter sido o esforçado criador
do personagem Aníbal Cavaco Silva.
Primeiro, no casino da Figueira
da Foz onde nos bastidores manobrou no sentido de ele ser escolhido para chefe
do Partido Social Democrático (PSD). Logo a seguir, deu as suas forcinhas para
Cavaco chegar a primeiro-ministro.
Anos depois, atacou-o sem dó, nem
piedade, afiançando que “a incultura de Cavaco Silva, política e não só, é
abismal – e o seu triunfo foi o da vulgaridade”. E não contente com o tom de
veemência da avaliação, Marcelo acrescentou: “Vejam lá se alguém teve a coragem
de dizer isto”.
Decorridos mais alguns anos, aquela
coragem marcelina foi travestida por
outra coragem típica de um catavento
Marcelo que gira ao sabor do vento. Qual coragem
foi esta? A de promover a candidatura de Cavaco Silva à Presidência da
República com os resultados que se têm registado, inerentes “à incultura
abismal, política e não só” que lhe assentara como uma luva. Luva que o
presidente de cavacal formatação jamais conseguiu descalçar.
Enquanto há vigorado a
permanência de Cavaco Silva no Palácio de Belém Marcelo Rebelo de Sousa tem
desenvolvido uma persistente actividade de apoiante e de prudente crítico. Ora
dá uma no cravo e outra na ferradura, que doseia com alfinetadas corrosivas
muito subtis que, geralmente, nem são apercebidas pelos telespectadores das
suas conversas domingueiras nos canais televisivos.
Sintetizando: Marcelo Rebelo de
Sousa criou, desenvolveu e acompanhou mais ou menos modelando, a narrativa
cavaquista. Melhor explicitando: Cavaco Silva é um personagem e um mito gerado
e mantido na ribalta pelo espírito criativo de Marcelo Rebelo de Sousa. Por
isso, Marcelo é um grande responsável pelo inaceitável exercício do presidente
Cavaco Silva.
Perguntar-se-á: Qual o interesse
de Marcelo nessa produção cavaquista.
Aqui comporta a minha
interpretação que remonta a algumas décadas. Marcelo terá concebido Cavaco como
uma lebre ideal que, futuramente, o levaria até ao Palácio de Belém. Como
assim?
Pela simples e natural
decorrência da cavacal figura ser tão destituída intelectualmente que, decerto,
os seus desempenhos na Presidência da República se anteviam como mui
desastrosos. Assim sucedendo, e feitas inevitáveis comparações de
personalidades e respectivos atributos intelectuais, Marcelo ficaria em
excelente situação de se propor ao PSD como seu representante e candidato ao
lugar presidencial.
Dito em termos simples: primeiro,
avançava o inepto, Cavaco, a abrir caminho para o apto, Marcelo (estrela
cintilante, sempre exposta nas pantalhas televisivas). Ou exprimindo de outra
forma: ‘o primeiro milho é dos pardais; o segundo milho é para quem der mais’.
Afinal, algo substantivo que
releva de um engenhoso e maquiavélico propósito de Marcelo Rebelo de Sousa.
Propósito que tem sido superiormente prosseguido discretamente, sem alarde público
ou embaraçosa percepção dos portugueses que, nas noites dos domingos, o viam e
ouviam nas televisões.
Ele, Marcelo Rebelo de Sousa, aí
está na pista presidencial e a fazer eloquente demonstração de quanto é
assertiva a presente avaliação do cronista Brasilino Godinho.
Marcelo, gozão: Sou um sortudo! Até lhe digo, não é só
uma lebre.
São duas: Cavaco, o algarvio situacionista e Maria, a
de Belém, do reviralho…
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