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notícias
Passos
Coelho já veio dizer que deve haver "alguma confusão". Cavaco
defende Passos e contraria Juncker.”
Foto bastante
impressiva: Juncker, sério e compenetrado. Passos Coelho, dispersivo, brejeiro.
Como se pensasse: aquilo que ele está a dizer
entra-me
por um ouvido e sai-me pelo outro.
Comentário de Brasilino Godinho
O chefe do governo Pedro Passos Coelho quase todos os dias é notícia. E geralmente
pela razão de ser, com insólita frequência, apanhado com o pé na poça… onde se concentram todas as inverdades em que está
envolvido.
Desta vez é o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que veio
desmentir Passos Coelho e revelar um segredo de Polichinelo.
De facto, todo o Mundo, Europa, Portugal e milhões de portugueses, estão
fartíssimos de saber que grão-chefe Pedro Passos Coelho, ministra das Finanças Maria
Luís Albuquerque e presidente Aníbal Cavaco Silva, foram os dirigentes
políticos portugueses que, na cena política europeia, mais se bateram contra a
Grécia e que nessa luta se empenharam tendo em vista provocar o colapso do novo
governo grego.
Leitor desatento perguntará: E porquê, essa obcecação?
A resposta é simples e transpareceu logo no início do mandato do novo
governo grego.
Passos, Maria e Aníbal, a trindade representativa de Portugal,
interveniente na discussão da crise grega, pretendia precaver-se contra um eventual
êxito dos governantes de Atenas – o que a acontecer poderia desencadear efeitos
de contágio nas próximas eleições legislativas e, eventualmente, provocar a
derrota da coligação que nos vai desgovernando.
Cumpre assinalar que essas criaturas do arco do poder central não
puseram os interesses de Portugal acima das suas obscuras conveniências
partidárias e dos seus imperativos ideológicos. Igualmente, agiram segundo a
perceptível conveniência de preservarem, para além das eleições que se
avizinham, as benesses e mordomias que têm desfrutado nos exercícios das
funções. E não só! Outrossim, dilatar no tempo os favores e as regalias,
nomeações e promoções, que foram sendo distribuídas, com grande escândalo,
pelas clientelas partidárias dos clãs que compõem a maioria governamental.
Aos leitores não deverá ter passado despercebido que se Passos Coelho não
ousou negar preto no branco a afirmação de Juncker e disse que devia haver
“alguma confusão” - decerto: a dele! – Cavaco Silva não se fez rogado e veio
logo, na hora, dar uma, primária, não explicação. Socorreu-se de um fraseado
que, parecendo ser explicativo, foi exemplarmente inconclusivo como é sua
reconhecida prática linguística.
Sobressai desta confusão de palavras e atitudes uma realidade que, sendo
insuportável, é profundamente detestável: os dirigentes políticos que nos
calharam nas últimas rifas eleitorais tentam fazer da maioria dos portugueses
uns idiotas naturalmente predispostos para aceitarem os seus expedientes
bacocos, as suas conversas de chacha e as constantes aldrabices em que tanto se
contemplam.
Com uma agravante: tais excelentíssimos personagens da desarrumação
governamental são tão medíocres actores do malfadado teatro político e por de
mais autoconvencidos, que nem se dão conta das tristes figuras que fazem em
Portugal e no estrangeiro. Quando fora de portas, também mais provocando o
embaciamento da imagem de Portugal e o descrédito da nação portuguesa.
Nota marginal – Há instantes a Televisão trouxe-me a imagem e a fala do presidente
Aníbal Cavaco Silva. Pretexto: anunciar a data das eleições a 4 de Outubro do
corrente ano. Objectivo: enfatizar a conveniência do voto útil na maioria
absoluta. Logicamente: a maioria da actual coligação que, como todos sabemos, é
a da sua especial e amorosa predilecção. A que associa, com notória
visibilidade pública, desvelada protecção.
A criatura presidencial passou a quase totalidade do tempo de antena a
referir-se (melhor dizendo: a repetir-se) ao que, na sua perspectiva, se passa
nos outros países da Europa no que concerne a legislaturas e a processos
eleitorais. Pela sua ordenança os portugueses devem plagiar os estrangeiros.
Nem pensar em marcar individualidade própria.
Importa aos eleitores, segundo a doutrina de Cavaco Silva, serem bons
alunos do seu magistério eleitoral; a qual subentende que os eleitores participem
com o voto na consumação de uma maioria que assegure a continuidade governativa
que tão bons resultados há conseguido em Portugal…
Verdade seja que - os eleitores uma vez cingidos a este idílico quadro
de rotundo sucesso do seu amigo e correligionário Passos Coelho e do seu
ajudante, o irrevogável Paulo Postas - nem valeria a pena o Estado fazer o
enorme gasto com as eleições e correr-se o risco de que o auspicioso tiro
cavacal lhes saia pela culatra.
E esse desaire quere o presidente Cavaco Silva evitar a todo o transe.
Ainda de anotar que presidente Cavaco Silva parecia um pastor Aníbal, evangélico,
a tentar convencer as suas ovelhas de que se devem manter no redil
social-democrata, de tom alaranjado, e no espaço adjacente do PP/CDS, mudas e
quedas até ao dia 4 de Outubro. Sobretudo obedientes seguidoras do grande
pastor Aníbal que lhes estava dirigindo a oração e apontando o rumo.
Mais uma vez, ali estava impante, Cavaco Silva, ousando considerar os seus
fiéis e os milhões de ateus como se fossem mentecaptos e (ou) estúpidos que não
sabem apreender as significações dos valores e as gritantes anomalias de uma
sociedade em declínio. Demais a mais irregularidades indecentemente provocadas
ou potenciadas pela governação de que é entusiasta apoiante.
E já agora, permita-se-me uma singela pergunta: Para marcar a data das
eleições não bastaria um comunicado da Presidência da República e o respectivo
decreto-lei publicado no jornal oficial?
Pois que se poupava a nação portuguesa de contemplar aquela descabida
encenação e a enfadonha, patética, dissertação sobre as supostas virtualidades
dos sistemas políticos de diversos países europeus.
Além de logo a seguir os assíduos espectadores das televisões serem presenteados
com mais do mesmo, ao suportar as estopadas decorrentes das opiniões dos
comentadores de serviço, velhos amigos da
onça, que cansam e há muito tempo se tornaram extremamente aborrecidos.
Só que a presidente Cavaco Silva convinha insistir – recorrendo ao expediente
de agir à laia de falsa fé - em levar a sua deslavada água ao moinho dos seus
interesses partidários…
No entanto, verdade seja reconhecida e proclamada: aumenta o número de
cidadãos que vão praticando a higiene mental. O que lhes facilita o expediente
de desligarem os aparelhos quando se registam tais espectáculos.
Pelo que, sendo também um acto singelo de procedimento cívico e de
afirmação sociopolítica, se admite como um raiar de esperança na redenção de
Portugal.
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