O
apuramento que urge fazer
em
balanço deste fim-de-ano
Brasilino
Godinho
Está
chegando o termo do ano de 2014.
É altura de se fazer o balanço do que foram as
despesas efectuadas pelos órgãos do poder e pelos titulares dos
altos cargos do Estado.
Isto porque num ano em que se acentuou o
agravamento das condições de vida, foram impostos grandes cortes de
vencimentos e de pensões aos trabalhadores e aposentados e se
desencadearam mecanismos que gravemente afectaram os factores de
produção e a economia, se decretaram medidas que agravaram os
índices de desemprego e fomentaram a emigração de jovens
licenciados - assim delapidando o património da massa cinzenta do
país - se deteriorou o funcionamento do Ensino e se acentuou a
desregulação do sistema hospitalar; tudo sempre com justificação
no estado de pelintrice das finanças públicas, é importante os
contribuintes e o povo saberem os montantes gastos com esbanjamentos
na mansão presidencial, no Palácio de S. Bento, nos ministérios e
com as passeatas ao estrangeiro do presidente Cavaco Silva, do chefe
do governo Passos Coelho, do infatigável viajante que tem sido o
ministro Paulo Portas e dos deputados.
Num tempo e modo em que os governantes e deputados
estão sempre a apregoar que querem transparência na sociedade, no
exercício da governação e na vida política (e dizendo que são
sérios... quando não se riem do Zé-Povinho), é pois necessário
haver conhecimento público dessas despesas. Até para se fazer ideia
do enorme montante do Erário a esmo desbaratado e ficarmos cientes
do descaminho que é dado às contribuições e aos indecentes cortes
monetários que tão gravemente têm complicado as vidas de milhões
de portugueses.
Igualmente imprescindíveis são os relatórios
das viagens ao estrangeiro efectuadas pelos presidente, chefe do
governo, ministros e parlamentares para se conhecerem os
resultados/benefícios de tão dispendiosas actividades turísticas
(como serão na maioria das ocorrências). A propósito: os leitores
lembram-se das viagens a vários países realizadas por alguns
deputados que, com arte e engenho, as fizeram sem saírem do
território nacional?
Não é admissível que enquanto milhões de
portugueses passam inúmeras dificuldades e sofrimentos por carência
de meios materiais, haja individualidades que assobiam para o lado e
se permitem gastar fortunas sem dar cavaco aos concidadãos.
O que configura uma situação própria de uma
república das bananas. E a negação de um Estado de Direito, atento
aos interesses da grei e zelando direitos dos cidadãos.
Adenda
pertinente
Os leitores reparem nas tristes palavras, que dão pena,
proferidas pelo cidadão Anibal Cavaco Silva em data relativamente
recente: “A minha reforma quase de certeza que não vai
chegar para pagar as minhas despesas”. (As
ditas dão pena? A bem ver, por bom entendedor, se pode descortinar
que quem disser o contrário não mente...).
Presume-se que, da quase certeza a cavacal figura
tenha rapidamente chegado à certeza absoluta da temida
impossibilidade de pagar as suas despesas. O que, de situação
penosa, passou a situação de aflição para quantos se revêm na
condição de dedicados, amorosos, subditos do venerando Chefe do
Estado (que temos – e que não é aquele que maioria dos indígenas
desejaríamos que fosse). A propósito, faz-se um parêntesis (qual
seja, para inserir o registo de que ninguém se tenha lembrado de
providenciar uma colecta nacional em socorro de sua excelência. Caso
para se dizer que há por aí espalhados muitos amigos da onça,
que se ficam pelas meias-tintas, embora ostensivamente albergados
no seio da família cavaquista...).
Logo, face à angústia instalada na sua distinta
pessoa, é de presumir que sua exclência ter-se-á sentido muito
limitada nas mui pessoais boas intenções de viajar, conhecer o país
de lés-a-lés e visitar vários países de sua especial afeição
turística, devidamente acompanhado pela dedicada esposa, veneranda
Senhora D. Maria e por numerosas comitivas de apoio e convívio
fraterno.
Por isso considerando, põe-se a hipótese, não
despicienda, do cidadão Aníbal Cavaco Silva ter decidido tirar a
barriga de misérias e aproveitar - enquanto é tempo de mandato
presidencial - para realizar agradáveis roteiros turísticos
dispersos por esse mundo de Cristo.
Também de assinalar que tal expediente de superar
dificuldades embaraçosas não impedirira, de todo, que sua
excelencia, venerando Chefe do Estado, num festivo alarde de
generosidade, se permitisse a atenção para com os contribuintes da
Fazenda Nacional de lhes fazer os relatos das actividades que o
ocuparam nos vários tempos de ócio e de pretencioso trabalho
oficial nas próximas paisagens e (ou) nas longínquas paragens
além-fonteiras. Outrossim, a descrição das impressões recolhidas
pelo seu peculiar olhar aquilino de longo alcance ou pela sua
indesmentível e perspicaz intuição analítica e, ainda, pela,
sobremodo, fecunda e muito distinta percepção intelectual que é de
seu singular apanágio. Igualmente, o gesto simpático, cúmplice, de
lhes facultar todas as
fotografias tiradas nas várias expedições e... já agora, de lhes
relatar o que de relevante se obteve com tamanhos esforços de
abnegação turística, dados a crédito de real aproveitamento da
grei portuguesa. Mas, sempre sucedendo por malfadado acaso dramático
- anote-se! - à custa do sacrificado Zé-Povinho e sem resultados à
vista (expostos a olho nu ou mesmo vistos com recurso a binóculos de
pequeno, médio ou longo alcance).
Visto, amplamente sentido, suficientemente respigado e
por devidamente concluso: Tudo isto, num tempo de pelintrice
nacional, existe! Tudo isto, num espaço pantanoso e repelente, é
absurdo! Tudo isto, numa dramática configuração patética, é
detestável fado nacional...
Fim
0 Comentários:
Enviar um comentário
<< Página Principal