Em
Setembro do ano transacto escrevemos a crónica que ora republicamos;
para bem se ajuizar que a fotografia do País, sendo hoje idêntica,
está mais sombria e carregada com tons muito negros... É a chamada
evolução na continuidade... da maligna desgovernação.
Ao
compasso do tempo…
Inaceitável!
Indecente! Indecoroso!Trágico!
Brasilino Godinho
01.
Povo em doloroso transe
O
povo de Portugal, na parte maioritária mais genuína e (nas
perversas condições actuais), excessivamente sofredora e explorada,
está farto dos espectáculos bacocos e das linguagens estultas da
maior parte dos políticos que ocupam a praça pública. E não só
do circo grotesco, da paródia sensaborona e do palavreado descabido.
Também, da corrupção que, qual erva daninha, cresce
desmesuradamente. Igualmente, do compadrio e do tráfico de
influências e participação de interesses que subvertem a coesão
social e são formas de domínio por parte de poderes que manobram
nos sombrios túneis por onde prolifera a impunidade e a audácia de
gente sem vergonha e nenhuns escrúpulos.
Mas,
pior para o cidadão português é sentir a toda a hora a traiçoeira
e repugnante agressão gratuita à sua integridade moral e (ou)
física; o ataque à dignidade da pessoa; o contínuo empobrecimento;
a falta de liberdade; a censura e a repressão dos que protestam; a
tentada e persistente manipulação das consciências; a privação
dos meios de subsistência; e a impossibilidade de tantos carenciados
pagarem os tratamentos médicos. E, ainda, no caso dos reformados,
ter ocorrido o incrível esbulho das suas pensões de que o Estado
era fiel depositário (agora o Governo, travestido de Estado
omnipotente e ditatorial, mostra-se infiel e desprezível
apropriador).
Por
todas estas razões de suma importância o Povo está, actualmente,
desiludido, inquieto e revoltado. Em primeiro lugar, deu-se conta de
que Portugal - ora possuído por uma casta de oportunistas, de
impreparados e de desavergonhados actores de baixa política,
destituídos quer de sensibilidade e competência, quer de algum vago
resquício de interesse pelo Bem Comum - está prosseguindo uma via
de extinção como Nação independente e de ruína colectiva. Em
segundo lugar, tomou consciência da sua condição de explorado, de
vítima e de que está indefeso, desprotegido, vilipendiado, à mercê
de todas as violências e arbitrariedades dos detentores e lacaios do
Poder.
E
assim compenetrado da situação em que está envolvido, houve por
bem traduzir seu estado de espírito no p.p. dia 15 de Setembro ao
descer às ruas para manifestar, inequivocamente, que repudia e
despreza todos esses fautores da sua desgraça. Mais, não confia
nessa gente. Outrossim, veio protestar com veemência contra as
políticas de destruição dos tecidos social, industrial e comercial
que vêm sendo prosseguidas pelo desgoverno nacional.
02.
Inaceitável! Indecente!
Indecoroso! Trágico!
Quer
o modo de dizer, o jeito de estar e o expediente de fazer, dos
políticos e governantes que, abusivamente, nos atormentam.
Tudo
isto, de composição aberrante e de aspecto, forma e sentido,
nitidamente ofensivos
para o genuíno ser português, se consubstancia na hipocrisia e no
cinismo vigentes na sociedade.
E
desde logo é, precisamente, na expressão “o governo está a
pedir sacrifícios aos portugueses”, muito usada pelos
governantes, políticos, comentadores, jornalistas e locutores de
rádio e televisão, que está implícita a desfaçatez de quem,
assim levianamente e pela rama, trata as questões de maior
importância. Também, realçada a impropriedade semântica.
Igualmente denunciada a inconformidade objectiva do seu intrínseco
conteúdo.
Pois
que a gritante verdade é que o Governo não pede coisa nenhuma.
Nem exige. Se pedisse, sujeitava-se a uma recusa. Se exigisse,
haveria sempre um qualquer expediente a que recorrer para ignorar,
iludir ou contornar a exigência.
O
que o Governo faz é impor! Com
arrogância, rigor e severidade! Pior, ainda, com o maior
autoritarismo e descaro. E “Custe o
que custar”, conforme proclama sem
quaisquer sentidos de justiça e de solidariedade para com os
cidadãos mais desfavorecidos. O que é factor não despiciendo,
visto que aos governantes, políticos e poderosos o “custar”
não lhes afecta minimamente; ou seja: nem, sequer, a ponta de um
chavelho.
Concluindo:
tudo o que está acontecendo em Portugal, nos domínios da
desgovernação, é:
INACEITÁVEL!
INDECENTE! INDECOROSO! TRÁGICO!
Fim
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