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SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

sábado, abril 02, 2022

 

DEUSES, UMA ESPÉCIE EM VIAS DE EXTINÇÃO...

APENAS UMA DIVINDADE SE SALVA!...

 

Brasilino Godinho

 

Há por aí gente desbocada que, nos últimos tempos da modernidade corrente, sem respeito e temor perante os Altíssimos vem dizendo, de quando em quando, que os Deuses estão loucos. Não estou seguro de, nalguma das minhas crónicas, não ter caído nesse pecado...

Mas que paira no ar qualquer coisa esquisita quanto aos comportamentos das divinas criaturas é uma realidade que, cada vez mais, se impõe no dia-a-dia e que confunde e sobressalta as almas que vegetam neste vale de lágrimas, onde nos abrigamos. Disso, damos conta e sentimos preocupação. E leva-nos a ponderar que, pelo menos, os Deuses estão cansados, exauridos e sem paciência para nos aturarem e, fatalmente, indiferentes ao que se passa no mundo que, por inerência à sua elevada condição, deles também será.

Consoante algumas realidades, admitamos: os Deuses estão a morrer de velhos. Restarão os sectários das religiões, no triste posicionamento de órfãos inconsoláveis e desprotegidos... E, consequentemente, fiéis mais fundamentalistas, mais agressivos e mais intolerantes.

 

Os Deuses foram numerosos... Alguns subsistem dificilmente...

Os Deuses foram muitos e logo gerados nos tempos mais primitivos da humanidade. Bastantes foram ficando pelo caminho numa viagem que os perdeu, sem qualquer hipótese de retorno à vida. E sem remessa ao nosso convívio - a que, demais a mais, todos se esquivam.

Ao longo dos séculos manteve-se dissimulado o espectáculo virtual de desencontro e hostilidade, protagonizado pelos vários Deuses. É um dado histórico adquirido que, desde o início dos tempos, esses seres divinos se conservaram de costas voltadas entre si. Cada qual das divindades das nossas predilecções, especializou-se em linguagens e liturgias específicas e foram demarcando os seus respectivos territórios. Nunca se preocuparam em utilizar qualquer "esperanto" universalista, entendido por eles e por todos os povos da Terra.

Concedendo-se que dos Deuses se esperam boas práticas misericordiosas, exercícios de justiça, pedagógicos exemplos e cuidadosos acompanhamentos dos rebanhos e que, dos deveres ou atributos, eles se têm distraído ou esquecido, tanto quanto aos mortais é permitido conhecer ou avaliar, chega-se à conclusão que lhes cabem grandes responsabilidades pelo calamitoso estado em que se encontra a humanidade. Ocorre inquirir: se as divinas personagens não se incomodam com o espírito do Mal, que resistência nos é consentida à sanha destruidora dos demónios que o encarnam e que das nossas almas se apoderam com desfaçatez e arreganho?

Por tais razões - expostas umas e subentendidas outras - e já que estamos nuna oportunidade de tentativa de diálogo com os Deuses, com respeito e frontalidade, ousamos recomendar-lhes que não nos exijam a atenção que nos negam com altivez e distanciamento.

A precedente advertência faz sentido se tivermos presente que, nos tempos que correm, algumas divindades se mantém em serviço no mercado das religiões, segundo a evocação e o testemunho transmitidos pelos seus fanáticos adoradores.

 

Factor a tomar em conta...

Não menosprezemos que os Deuses sobreviventes se encontrarão carcomidos pelos milhões de anos que, podemos supor, levam de existência atribulada a seguir as aventuras e os desvarios dos humanos, a regular a evolução do universo e a consertar o desconcerto das coisas. Desconcerto, presente a cada momento, a concitar-lhes as atenções e, talvez, a distraí-los dos seus peculiares ritos e divinas ocupações - o que, inevitavelmente, lhes trouxe um tédio insuportável, um esgotamento sufocante e um aborrecimento mortal.

 

Porquê Adão e Eva?...

Dá hoje para nos interrogarmos sobre as verdadeiras intenções do Patriarca dos Supremos Seres ao estabelecer focos de instabilidade numa pequeníssima parcela do seu imenso reino celestial e universal. Esses focos perturbadores resultaram da criação do Adão e da Eva; aliás, logo ali evidenciados com o episódio da maçã. Ou, quem sabe, os Deuses, antevendo as diabruras dos novos seres, quais bobos dos festins celestiais, não estariam empenhados na formação de espaços e no aparecimento de distrações ou de ocupações para uso próprio e das suas côrtes divinas, a marcarem presenças de contraste com a pacatez, quiçá, a sensaboria da tranquilidade do Paraíso?

Por outro lado, também é de desconfiar se o Deus Supremo a partir do momento em que fez a célebre proclamação (crescei e multiplicai-vos) não estaria já a desinteressar-se pelo futuro da prole e a marimbar-se, como soe dizer-se, para todos os cataclismos que se sucederam por culpa das novas criaturas surgidas na Terra.

Bem analisadas as questões, quem somos nós para desvendar os impenetráveis desígnios dos Deuses? Não se costuma dizer que os Deuses escrevem artisticamente direito por linhas tortas?

 

A prolífera mitologia grego-romana

Na verdade, não são despiciendos os precedentes raciocínios. Como verdadeira será a evocação da complicada busca e dos dilatados esforços a que se dedicaram os nossos antepassados primitivos, para obterem respostas para as imensas interrogações que se punham às suas consciências inquietas.

Obcecada na interpretação dos fenómenos e ávida da verdade absoluta a antiguidade grego-romana criou uma mitologia que, no seu seio, reuniu um número apreciável de divindades, de que temos, hoje, memória documental, figuração artística e representação arqueológico-monumental.

No nosso tempo e após natural depuração, processada na sucessão dos milénios, de numerosos e inconsequentes Deuses, existem comunidades e povos que perservam as suas religiões e as suas respectivas divindades.

 

Nem as religiões se entendem, nem os devotos cumprem os preceitos...

Não obstante, um facto entristece as mentes e, em muitos casos, fenece as vidas. Ou seja: nem as religiões se entendem numa qualquer plataforma ecuménica, nem os ministros dos cultos e os devotos cumprem os preceitos a que se obrigaram; tão-pouco se harmonizam em comum, ou compatibilizam suas existências com as dos seus semelhantes de outras confissões.

Assiste-se a contínuos conflitos e às mais variadas disputas rácicas, políticas e religiosas. O mundo é varrido por ondas de hipocrisia, de violência e de intolerância que vitimam permanentemente milhares e milhares de pessoas. Um feroz egoísmo dos indivíduos e as querelas de diversa indole entre nações dão azo à fome endémica que dizima milhões de seres humanos em vastas regiões do globo.

As lutas fratricidas entre protestantes e católicos na Irlanda do Norte, as guerras sujas da ex-Jugoslávia, do Sudão, do Iraque, da Palestina e da Turquia, agora a da Ucrânia, constituem exemplos do descalabro que vai pelo Mundo. 

É claro que tudo isto expressa a inoperância ou o desprezo das divindades que herdámos logo à nascença. Mais significa que os Deuses se acomodaram ao "statu quo" e que se sujeitaram à moral permissiva. A passividade dos Deuses representa a negação dos princípios doutrinários e um total e intolerável descrédito para as suas prerrogativas divinas.

 

È credível que os Deuses morram todos...

Se, na actualidade, os meios científicos chegaram à conclusão de que o nascituro, no preciso instante do nascimento, inicia o processo degenerativo que o levará inexoravelmente à morte, podemos concluir por analogia (experimentando desconforto, sentindo abjecção do quadro desolador e tétrico da humanidade) e pela verificação de que - nem face à dimensão da tragédia em que estamos mergulhados os Deuses se deixam tomar pela comoção, levando-os a terem mão segura e actuante que inverta o curso dos acontecimentos - afinal, eles, os divinos seres, não são aquilo que, durante imenso tempo, se julgou serem. Já não castigam ninguém!. Não premeiam os justos! Nem misericordiosos chegam a mostrarem-se! Demitiram-se, simplesmente! Tal apatia, abandono ou desinteresse - o que lhe quisermos chamar - é uma tristeza absoluta! Uma infelicidade tremenda! Configura uma calamidade! Representa uma insipidez sem graça e sem proveito para ninguém! Sopas e descanso é o que parece quererem... Em cúmulo de apreciação importa reconhecer que, também, as divindades, à nossa semelhança, estão a ficar decrépitas e a morrer paulatinamente. Paz celestial para as suas almas!

 

A divina excepção...

Em vista disso é credível que os Deuses morram todos. Com uma divina excepção: Vénus, a bela deusa do amor e da formosura! Porquê? Por que só ela tem unhas para tocar a viola da Vida...

A incomparável Afrodite, do nosso encantamento, viverá eternamente. Sem qualquer dúvida, enquanto não desaparecerem da face da Terra o último homem e a derradeira mulher...  Valha-nos essa única certeza moral!