ACHEI (DES)GRAÇA AO PRESIDENTE…
Brasilino Godinho
03/Janeiro/2022
Pois que Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e eles afinam pelo mesmo diapasão!
O Presidente na sua alocução do p.p. 01 de Janeiro, disse coisas do “arco-da-velha”.
Desde logo, coisas nenhumas; visto que nelas falharam as que fossem assinaláveis como novas, inesperadas, assertivas, nunca apresentadas, promissoras de uma renovação e engrandecimento da Pátria.
Pátria que tão mal vai sendo tratada pelos poderosos “Donos Disto Tudo” e por uma medíocre classe política que, na sua maioria, é oportunista, exploradora, muito corrupta e que mostra ser-lhes subserviente e bajuladora.
Depois, seguindo um mediático guião político, ilustrado com excessiva moldura fotogénica, demasiado correntio nos últimos tempos, Sua Excelência menosprezou a sua própria condição de idoso; o que se subentende da afirmação: ”que a próxima AR dê voz ao pluralismo de opiniões”, omitindo que todos os partidos com assento parlamentar se estão marimbando para cumprir tal desiderato; visto que, seguindo a condenável tradição parlamentar, nem um único idoso - representativo da respectiva faixa etária - é incluído nas listas de candidatos às próximas eleições legislativas.
No que concerne a representatividade de todas as faixas etárias e extratos sociais, deixo o registo de que os idosos, reformados e aposentados da Função Pública (mais as prostitutas oficiais e as outras mais ou menos clandestinas), são os únicos cidadãos indecentemente excluídos – talvez significando que as rapaziadas dos partidos admitem que está prestes a extinguir-se a “peste grisalha” como ofendeu, desejou e sugeriu em fins de 2018, o deputado da triste figura, Peixoto, em discurso efectuado na Assembleia da República que o ouviu e calou e que, pela postura silenciosa, tacitamente consentiu toda a mortandade entretanto desencadeada com a preciosa ajuda da COVID-19, auspiciosamente surgida em satisfação de idênticos propósitos também em 2018 enunciados por Christine Lagarde, Bill Gates e outros grandes figurões do capitalismo norte-americano.
Mais disse Presidente Marcelo: que das eleições resulte a formação de um Governo que “garanta previsibilidade para as pessoas e para os seus projectos de vida”.
Como não estou esclarecido quanto ao teor, sentido e alcance da referência à “previsibilidade” que um futuro governo deve garantir a minha pessoa e a todos os portugueses, hei por bem tomar prevenção e ao abrigo do direito de petição que me é facultado: pelo n.º1. do Artigo 37.º, n.º 2., do Artigo 48.º, n.º 1, do Artigo 52.º, da Constituição da República Portuguesa, pergunto ao Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, que foi um distinto Professor da Faculdade de Direito, da Universidade de Lisboa, qual é a natureza, o tipo e a qualidade do que é “previsível” para o signatário e seus projectos de vida; relativamente aos quais (quem diria?) é agora, antecipadamente, a meses de distância temporal, suposto de serem conhecidos pelo futuro governo; o qual, desde já, leva surpreendente vantagem - uma vez que sabe mais disso do que o presumido beneficiário da prevista e garantida atenção e desvelo altruísta dos generosos governantes prestes a ocuparem os cadeirões do Poder. Diga-se: vantagem sobre o cidadão Brasilino Godinho. Ele, nos dias que se vão seguir, experimentando enorme curiosidade quanto à “previsibilidade” indicada pelo Presidente da República…
Mais disse Sua Excelência: “O ano que hoje iniciamos tem de virar a página, consolidando, decidindo, reinventando, reaproximando. Retomemos a caminhada juntos.”
Se der crédito à ideia de que a cabeça é “caixa dos pirolitos” então devo confessar que depois de ler tal frase os meus ficaram em convulsão.
Explico-me: o presidente Marcelo afirmou que “iniciamos o ano”… Fico atordoado e preocupado… Desde o indeterminado ano em que me reconheci como ser pensante, quase contadas noventa primaveras, que ando convencido que os anos se iniciam por motu próprio. Conceber que sejam iniciados sob o criativo impulso marcelino e dos seus amigos deixa-me quase aterrorizado; de antemão sabendo que a respeitável criatura presidencial é imprevisível nas suas reacções e bastante inconstante nos pensamentos e atitudes.
Também desconhecíamos que o novo ano tenha página e a obrigação, conexa com desconhecido peculiar jeito, de a virar, atrevidamente, sem pedir licença a quem quer que seja.
Mas mais extraordinário é que Presidente garante que ao ano 2022 cabe o indeclinável dever cívico de ir consolidando (o quê), decidindo (sobre quê? e em que termos?), reinventando (que materiais? artefactos? sistemas? modos de (des)governar?), reaproximando (que gente? povos? Estados? culturas? religiões? Sporting, F. C. Porto, Sport Lisboa e Benfica?
E mais observando, censurando e depreciando, sem papas na língua ou tremuras de mão sobre o computador, destaco a impressionante frase em que Excelência Presidente, puxando pelos galões de Comandante Supremo das Forças Armadas e, por natural inerência, de Orientador-Chefe Mor de todas as outras, numerosas Forças Desarmadas, usando da prerrogativa de poder dispensar a intervenção do ano 2022, determina: “Retomemos a caminhada juntos.”
Permito-me questionar: Que diacho de caminhada? Retomá-la? A partir de que estádio? Com que propósito? E segurança? Efectuada em que estrada, rua ou avenida? Zona geográfica? Certamente que Presidente, não pensa fazer a jornada ao longo da via-férrea ou da auto-estrada mais à mão de semear. Em que tempo, a quer fazer? De inverno com as vias bloqueadas e esburacadas? Ou no Verão, sob calor abrasador? Ou pela calada de noite sombria e friorenta?
Mas qual é a meta? O misterioso destino? Será que, fervoroso católico, pretende dirigir-se para Fátima, nem que para isso concretizar tenha de mobilizar os seus insossos (aos salgados, um maléfico ar lhes deu…), compinchas monárquicos? Caminhada a efectuar com que fim e proveito para a Nação? Porquê a recomendação de a caminhada ser feita juntos? Sabendo-se que é mais seguro estar só, do que mal acompanhado, por que razão o Presidente Marcelo não marcha sozinho ou simplesmente junto com os membros das Casas Civil e Militar? Daí o cabimento da aflitiva interrogação: quais as companhias? Quiçá, talvez, usufruindo da camaradagem dos agentes policiais e das forças motorizadas da GNR, para manter a ordem e disciplina no grupo? Porventura, com dispensa de cantadores do Fado e dos artistas do circo político? Ou mesmo com estes emblemáticos adornos da falsa democracia portuguesa? Uns e outros indispensáveis para animar ou desanimar a malta agrupada em peregrinação?
E que dizer da fantástica ideia do presidente Marcelo, inclusa na parte final da alocução aqui em foco, que transcrevo: “Janeiro e Março será o tempo ideal para que o Inverno (observo: supostamente ele bem intencionado e colaborante com o Presidente), ajude a fechar um capítulo da nossa história e converta preocupações e aflições em esperanças e confianças”´
Minha curiosidade: De que expedientes, meios e instrumentos se vai servir o Inverno para conseguir levar a “carta a Garcia”?
Devo transmitir aos leitores que a leitura deste trecho me deixou muito pensativo, entristecido e com imensa pena do Inverno.
Se de outrem fosse a autoria da frase, classificaria de grande maldade atribuir tão pesada tarefa ao Inverno. Não lembraria ao Diabo responsabilizar o ser de condição invernal pelo fechamento de um não indicado capítulo da nossa história.
Pior ainda para agravar, sobremaneira, o enorme encargo e trabalhosa tarefa impostos na directiva marcelina ao Inverno: a de “converter preocupações e aflições (não descriminadas na presidencial peça oratória) em esperanças e confianças” – das quais, umas e outras não é, pelo presidente Marcelo, facultado conhecimento e mencionado natureza e sentido. Fica o Inverno adornado com sombrias perspectivas.
Pela minha parte, anoto o meu deslumbramento pelas capacidades do ser amorfo, Inverno, descobertas em sede presidencial.
Para terminar, anoto que presidente Marcelo, como se estivesse dotado de dons premonitórios,” elucida… que este será o ano em que “o país reinventa as vidas congeladas, adiadas, trucidadas, pela pandemia”.
Faz-me tremenda confusão que o país – ente inanimado, circunscrito numa realidade intrinsecamente territorial – sendo espaço sui generis possa ter capacidade de reinventar seja lá o que for. E logo vidas? Ainda-por-cima estando elas “geladas, adiadas, trucidadas”? Ó! Que horror! Ignoradas até agora - certamente depositadas em sítios que só serão conhecidos pelo presidencial residente do Palácio de Belém. Mas cuidado teve ele em nos informar que será através de irrepetíveis fundos europeus que tudo isso será conseguido.
Por saber, é como o país vai descalçar a bota… Uma vez que Presidente Marcelo com a pertinácia que se lhe reconhece e os atributos que nos demonstra a qualquer hora, vai continuar a crer nas fantasiosas ideias de criatividade do país, surgidas como milagres alcançados com a prestimosa ajuda e intervenção do Divino Espírito Santo; qual ser divino que, provavelmente, ainda mantem relações de fraterno convívio e amizade com o cidadão Marcelo Rebelo de Sousa – que, assiná-lo, há tempos teve a gentileza de anunciar ao povo essa relativa e excepcional camaradagem e cumplicidade entre um terrestre, português de fina gema alfacinha e a Divina Criatura Celeste…
Concluo, prevalecendo-me da oportunidade e pertinência de sugerir ao leitor - se por desagradável acaso, neste momento de leitura da presente peça escrita, de contextura literária conforme à peculiar estilística brasiliana, tem colocado chapéu na cabeça pensadora - a seguinte desconfortante reacção de irreprimível desalento(…): tire e erga a cobertura em brusco gesto de assombro face ao discurso presidencial, de marcelina formatação oratória, efectuado no p.p. dia 01 de Janeiro de 2022.
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