PRETENSIOSOS DEVANEIOS TELEVISIVOS
QUE SOBRESSAEM DE IRRACIONALIDADE
Brasilino Godinho
Repetidos, nas tardes de todos os dias úteis, em programa da RTP. Ei-los:
- "Agarre sempre o lado positivo da sua vida, para que tudo lhe pareça mais fácil".
- “Até amanhã, se Deus quiser”.
O saudoso engenheiro SOUSA VELOSO, manteve na RTP, durante muitos anos, o apreciado programa TV RURAL. Terminava a emissão dizendo: “Despeço-me com amizade, até ao próximo programa”.
Nos tempos que vão decorrendo, há na RTP quem aparenta imitá-lo e se despeça no seu programa diário com a descabida afirmação acima transcrita, decerto pretendendo associar-lhe o cunho de marca pessoal. Sem esquecer o incrível lugar-comum: “Até amanhã, se Deus quiser”.
Porém, eventualmente, um dia a coisa dará para o torto e Deus não acolherá a insólita recomendação que, implicitamente, lhe é imposta pelo devaneio religioso de uma personagem televisiva.
Além de ser expressão religiosa descabida numa estação pública, num Estado laico e que é acedida por muitos cidadãos que nem a acolherão de bom grado.
Propor ao cidadão que “agarre sempre o lado positivo da sua vida” é das coisas mais patéticas, absurdas, incongruentes e irracionais, que se julgaria inconcebível no linguajar de um ser humano minimamente letrado. Sobremodo, confrange ouvir na RTP.
Outrossim, recomendação gratuita e per se repulsiva: como se as pessoas não tivessem mais que fazer do que consumir tempo e chagar a paciência na atribulada procura do hipotético lado positivo das suas existências... só para agradar à criatura da televisão estatal.
E porque, sublinhe-se, a senhora está muito preocupada que o telespectador esteja na iminência de lhe fugir “o lado positivo da sua vida”; pelo que, com ênfase, recomenda que deve sempre ter esse cuidado de tal procura… não vá acontecer que alguma vez se esqueça de o agarrar – o que, provavelmente, seria uma chatice e lhe daria o incómodo de noticiar tal ocorrência, no seu tempo de antena televisiva…
Outrossim, deveras patética e disparatada a incrível observação “(…) para que tudo lhe pareça mais fácil”; a qual, releva de doentia obcecação pelas facilidades e como se estas e o simplismo fossem necessariamente características de harmoniosa vivência individual.
Impressiona desfavoravelmente que a criatura (obstinada praticante de tão grotesca fala) e a entidade RTP não se apercebam do ridículo e disparate em que incorrem nos fins de tarde dos dias úteis da semana.
Embora tal circunstância televisiva não surpreenda de todo; uma vez que é consonante com o actual estado de descalabrada caracterização da sociedade portuguesa.
Mas estado da nação que está amargurando as almas dos cidadãos portugueses que bastante prezam a sua Pátria e muito valorizam o melhor uso da Língua Portuguesa.
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