DA EMBRIAGUEZ DE FACTO EXIBIDA EM BRUXELAS
À EMBRIAGUEZ DA IGNORÂNCIA TIDA EM LISBOA
Brasilino Godinho
21 de Julho de 2021
Há poucos dias foi divulgado pela Internet um vídeo que mostrava o eurodeputado Paulo Rangel, embriagado, a fazer percurso nocturno, aos ziguezagues, numa rua de Bruxelas.
Para além do posterior breve comentário de Paulo Rangel, expresso em linguagem sóbria de que houve conhecimento público e que, sublinhe-se, não foi ofensivo da inteligência do vulgar indígena nacional; houve um actor que, parecendo assumir as dores e ressaca do eurodeputado, veio à praça pública declarar a sua indignação pelo que designou de “invasão da privacidade”, a traduzir um crime que lhe merecia a maior repugnância.
Devo escrever que estou em desacordo com tão abusada, descabida e incrível apreciação.
Eu digo mesmo: senti a maior repugnância face a uma declaração tremendamente verrinosa e em que sobressai uma ostensiva ignorância do correcto uso da semântica e o patético desacerto no contexto da situação em apreço.
Desde logo, atente-se no que se entende por privacidade.
E para que não se diga que a interpretação do termo me pertence em exclusivo, transcrevo o que consta do Dicionário Porto Editora, da Língua Portuguesa:
«Privacidade : 1 ambiente afastado da vida pública ou social 2 ambiente de recato e sossego; intimidade 3 vida íntima 4 seio da família.»
É de assinalar que a exposta embriaguez de Paulo Rangel nos momentos em que foi filmada a sua caminhada, não teve o enquadramento que se possa considerar de intimidade. Quem filmou o eurodeputado não praticou invasão da sua privacidade, visto que ele se esteve expondo na via pública e, portanto em estado vulnerável a ser contemplado, futuramente, com as imagens da sua deplorável exibição. Lá diz o ditado: “quem anda à chuva molha-se”. E melhor seria que, a qualquer momento, bem zelasse a sua imagem; até pelo respeito que deveria consagrar a si mesmo. E quem não se respeita, sujeita-se a não ser respeitado.
A filmagem ocorreu na via pública e local público também seria o restaurante e discoteca.
Só haveria invasão de intimidade se a filmagem tivesse ocorrido no seu lar ou em qualquer espaço particular.
Esta crónica transmite a indicação de que devemos estar atentos a atitudes e declarações acerca dos comportamentos tidos por pessoas e entidades; umas e outras, menos consentâneas com a verdade e rigor com que elas devem ser ditadas, E não lhes dispensar qualquer crédito. Com imperativa ideia de contrariar a pretensão de manipular consciências e fazer abusivas lavagens aos cérebros dos cidadãos propensos a “enfiarem o barrete”…
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