BRASILINO GODINHO
209. APONTAMENTO
06 de Abril de
2019
O INVULGAR E
GRANDE TABU PROFISSIONAL
DA
VIDA PROFISSIONAL
DE BRASILINO GODINHO
(Continuação
do 208. Apontamento)
UM TABU, QUAL
ESPADA DE DÂMOCLES
APONTADA À CABEÇA
DE BRASILINO GODINHO
Brasilino
Godinho, tinha 26 anos de idade e ao decidir que iria dedicar-se ao estudo e
elaboração de projectos de engenharia rodoviária estava consciente das
dificuldades, resistências, invejas e perseguições, que teria que
enfrentar.
Dificuldade
não menor era, precisamente, e logo à partida, a determinação legal que não lhe
reconhecia competência para projectar na área de engenharia.
Quero
dizer: Estava assim gerado um tabu para Brasilino Godinho. Não poderia assinar
os seus projectos. Ele foi, como que uma espada de Dâmocles, que esteve dezenas
de anos apontada à sua cabeça.
Por
muito bem concebidos e elaborados que fossem os estudos e projectos,
qualquer
um que viesse a ter a sua assinatura, seria liminarmente rejeitado. O projecto
era aceite nas repartições e apreciado pelos serviços, não pela sua valia
técnica, mas pela particularidade de incluir uma qualquer assinatura de um
técnico credenciado por instituto ou faculdade de engenharia.
Pelo
que para cada estudo ou projecto que Brasilino Godinho elaborava tinha que
solicitar e pagar a assinatura de técnico diplomado. Daí que decorridos que
foram 60 anos de profissão e tendo efectuado muitas dezenas de projectos,
relatórios, exposições, fiscalização de obras, ao serviço do Estado e para as
autarquias locais, também em regime de actividades particulares para as câmaras
municipais e juntas de freguesias, não existe uma única peça que tenha a minha
assinatura a título de responsável.
Todavia,
no seu gabinete TÁPIA GODINHO – ESTUDOS E PROJECTOS DE ENGENHARIA, L.ª,
Brasilino Godinho, teve várias oportunidades de orientar engenheiros nas
tarefas de responsabilidade da firma - de que era sócio-gerente, director
técnico e proprietário em parceria com a sua mulher.
Brasilino
Godinho nunca se intitulou engenheiro. Mas bastantes pessoas, na sucessão dos
anos, me foram tratando por engenheiro; algumas até sabendo que não tinha
qualquer curso de engenharia – como eram os casos de alguns professores
universitários. Ainda hoje há cidadãos que continuam a tratar-me por
engenheiro. Apesar de agora ser doutor.
Vem
a talho de foice relatar um episódio ocorrido nos arredores da vila de Vagos.
Uma tarde, depois do almoço, operava trabalhos de campo concernentes à
elaboração de um projecto de via rodoviária municipal. Tinha o aparelho,
taqueómetro, em estação. Fazia leituras das movimentações do porta-mira. A dada
altura, apercebo-me que, em redor, se estão concentrando pessoas e que vão
cochichando. Eis, que de-repente, uma mulher interpela-me: “Ó senhor
engenheiro, está a levar a estrada pelas nossas terras que tanta falta nos fazem”.
Resposta
do Brasilino Godinho: Ouça: “em primeiro lugar, não me trate por engenheiro,
sou topógrafo e, depois, alguém irá decidir sobre o meu trabalho”.
Reacção
imediata da interpelante, em tom irado: “Pois é! Mandam para aqui um tipógrafo,
que nem engenheiro é”. A conversa acabou al, no ponto de rebuçado… O que até
ali era respeitinho pelo “engenheiro”, descambou em agressividade. Ia levando
pancada. Mas serviu-me de lição. Jamais me intitulando engenheiro, no entanto,
quando em serviço oficial ou particular, actuando como se o fosse, aceitava o
tratamento de engenheiro para fazer creditar o trabalho que estivesse
desenvolvendo e a minha pessoa como técnico responsável.
Dado
curioso é que não credenciado ou adornado com cartão-de-visita, ostentando a
designação de técnico oficialmente habilitado em engenharia, estava, face a
provas dadas - ipso facto e perante entidades oficiais e autarcas - credenciado
como técnico de engenharia confiável e competente.
Aliás,
o Estado cobrava-me elevados impostos decorrentes dos honorários que recebia
pelos meus trabalhos de engenharia, mas praticando a vilania de não me deduzir
as avultadas despesas com realização das tarefas de projecto (deslocações pelo
país, dormidas, alimentação, remunerações de colaboradores: pessoal de campo,
dactilógrafos, desenhadores, topógrafos, agentes técnicos de engenharia e
engenheiros, civis, eletrotécnicos, mecânicos, e outras mais despesas que não
vale a pena enumerar. Para o Fisco e relativamente ao contribuinte Brasilino
Godinho, que nunca falseou qualquer declaração de rendimentos, só havia que
atender aos valores das facturas dos trabalhos realizados e ignorar o rol das
despesas. Somente lhe era deduzida uma pequeníssima verba correspondente à
profissão de topógrafo, consignada no Código Fiscal; a qual, correspondia à sua
função nos serviços do Estado. Desta forma Brasilino Godinho, era dos técnicos
de Aveiro que mais pagava impostos: profissional, complementar e um ou outro
extraordinários. O que se traduziu em ser espoliado em milhares de contos ao
longo de dezenas de anos. Um expediente fiscal que só terminou em Abril de 1983
com a criação da firma TÁPIA GODINHO- ESTUDOS E PROJECTOS DE ENGNHARIA, L.ª,
com sede na Av. Dr, Lourenço Peixinho, Aveiro. Ficando o Fisco obrigado a
aceitar a escrita da pequena empresa, a cargo de técnico inscrito no Ministério
das Finanças. Mas com o requinte da malvadez de, pelos meses de Janeiro,
Fevereiro e Março, me ter cobrado imposto de valor superior a cem contos.
Para
o leitor fazer pálida ideia de tal barbaridade fiscal, relato um episódio
passado nos anos setenta, na estação dos CTT, sita na Avenida Dr. Lourenço
Peixinho, cidade de Aveiro.
Eu
encontrava-me numa fila de espera aguardando ser atendido ao balcão. À minha
frente estavam uma senhora de meia-idade e uma jovem de uns 20 anos. Comentavam
uma tenebrosa ocorrência fiscal… Dizia a menina: “imagine o que aconteceu ao
Dr. A (um médico possuidor de avultada riqueza, clínico do hospital e com
grande clientela que atendia no seu consultório, bem localizado na cidade),
coitado do Dr. A, está desvairado, teve de pagar sessenta contos de imposto
profissional. Fui encontra-lo profundamente irritado”. Ouvindo aquela
descrição, tive que me conter com algum esforço, porque estive quase a soltar
uma sonora gargalhada. É que o Brasilino Godinho, já tinha pago 230 contos de
imposto profissional e ainda estava condenado a pagar uma grossa maquia de imposto
complementar.
Mais
episódios relativos ao pertinaz zelo evidenciado pelo Fisco no assalto à
debilitada bolsa do contribuinte Brasilino Godinho, poderia descrever.
Porém,
o que fica exposto, nos precedentes parágrafos, serve de demonstração de que
Portugal não é um Estado de Direito.
(continua no 210. Apontamento)
0 Comentários:
Enviar um comentário
<< Página Principal