BREVE
NOVELA BRASILIANA
EU, OCTOGENÁRIO, VIÚVO, TOMARENSE, AVEIRENSE,
ATREVIDO E INCORRIGÍVEL PECADOR, ME CONFESSO
Capítulo I
INTRODUÇÃO
Brasilino Godinho
12 de Outubro de 2018
Confesso que, ultimamente, por
algumas poucas vezes estive tentado a reconhecer alguma valia a um singular
comentário de um jovem talvez formado numa universidade de vão de escada
fornecedora de graus académicos tipos arrelvado, socrático e de feliciana
barreira duarte, que o inseriu numa rede social em 2017 no auge do mediatismo do
doutoramento, precedendo licenciatura, do octogenário Brasilino Godinho – este,
imagine-se, teve a ousadia inédita em Portugal de iniciar a carreira
universitária aos 77 anos de idade, e o desplante de a fazer totalmente sem
quaisquer equivalências, nenhuns favorecimentos, com frequência assídua das
aulas e realização de testes de todas as unidades curriculares. Pior do que
isso, para maior e censurável desvergonha(…) com boas classificações. Diga-se: um
escândalo! Acrescente-se: até agora sem qualquer proveito funcional para a
brasiliana criatura e para a sociedade. Terá sido um desperdício que a
universidade se concedeu sem utilidade.
Note-se que, ainda por cima, duas
formaturas universitárias de Brasilino Godinho conseguidas sem sombras de
pecados; as quais terão constituído uma incómoda pedrada no nacional charco de
podridão em que se há convertido o pântano indicado pelo famoso político
António Guterres. Outrossim, uma gratuita afirmação de desvalorização pessoal
de Brasilino Godinho, a que o Estado e a sociedade, certamente incomodados com
tamanho atrevimento brasiliano, nem atribuem consideração na medida em que
desprezam a máxima de Cícero: “Não basta conquistar o conhecimento, é
preciso usá-lo”. Um desprezo consonante com os valores professados pelo
Estado e pela sociedade que temos. Visto que está na moda o apelo à facilidade
e ao oportunismo e a prática de incentivar, acolher, fomentar, favorecer,
galardoar, glorificar e aplaudir o desconhecimento, a impreparação, a mediocridade,
o nepotismo, a incompetência, a corrupção, o compadrio e o clientelismo
partilhado no campo político e nos vários estratos sociais. Precisamente,
expedientes que suscitam activo repúdio a Brasilino Godinho. Repúdio que se
traduziu no historial de todo o seu percurso académico. Aliás, uma moda que
configura um qual normativo ético, cívico de ordem prática, que se contempla na
brilhante situação deficitária do
País, de baixo nível de vida, de mal-estar da maioria da população e no estado
de decadência de Portugal.
Retomo o fio à meada, para citar
o ‘inteligente’ comentário do jovem.
Ele escreveu: “Melhor seria que o velho se dedicasse ao jogo de cartas”.
Admito que uma qualquer criatura
- que não o ‘pecador’ Brasilino
Godinho - pensaria o mesmo que o tal moço. Sobretudo, se confrontado com a
situação desagradável de, tal e qual como a brasiliana figura, não conseguir
emprego e oportunidade de dar contributo válido à sociedade na medida da sua
longa experiência de vida de engenheiro rodoviário (por autodidáctica formação
profissional) e sabedoria académica.
Todavia, e salientando (como
geralmente é conhecida) a maneira de Brasilino Godinho pensar, e os modos de
agir e de estar interveniente em sociedade, deixa-se o registo de que jamais
lhe merecerá aceitação tal hipótese de abdicação do seu pendor para ser fiel ao
desígnio de prosseguir um envelhecimento activo – apesar do malgrado que isso possa
causar aos seus opositores e amigos da
onça.
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