O ACTUAL ROSSIO
DE AVEIRO PERDEU A VALIDADE?
QUAL A RAZÃO?
Brasilino
Godinho
Estaria inclinado a dizer que a questão de um
renovado Rossio de Aveiro, inoportunamente surgida este ano, me deixou estupefacto.
Seria uma
meia-verdade. Não verdade inteira pela razão de que em Portugal já nada me
surpreende. Arrisco dizê-lo. Embora com reserva de não impressão infalível.
Boquiaberto, desde
logo, pelo facto de ninguém contestar vigorosamente a necessidade da renovação
total do parque a ponto de o transfigurar completamente.
Lembro-me que a última
renovação do Rossio – que está expressa no actual ordenamento urbano e na
formulação paisagística – foi obra planeada e executada logo nos primeiros anos
dos mandatos do Dr. Girão Pereira.
Contrariamente
ao que se tem verificado ultimamente na discussão sobre o Rossio, a iniciativa
de Girão Pereira, foi acatada sem oposição política e malquerença da população,
visto que toda a gente reconhecia que algo havia que fazer e melhorar
substancialmente.
Agora,
deparar-se a obsessão por grandes obras de transfiguração do Rossio julgo ser
mais um indício do modismo que se instalou na sociedade portuguesa: de se fazerem
grandes obras, com elevados custos para os contribuintes; os quais, vêm os seus
dinheiros desbaratados e muito mal utilizados.
Geralmente,
pergunta-se: Porquê estas obras e os seus elevados encargos financeiros? Porquê
não se toma em consideração que o Estado e as autarquias estão muitíssimo endividados?
Porquê esbanjar dinheiros públicos em obras avantajadas (por vezes, supérfluas)
quando faltam verbas para cobrirem necessidades básicas na Administração
Pública, na Saúde, no Ensino, na Segurança Social, nas Forças Armadas e da Segurança
Pública, nas Obras Públicas, na defesa e protecção das florestas? Como ignorar
a grave crise financeira do Estado e os tempos difíceis que se aproximam? O que
impõe prudência nos gastos públicos.
A resposta dos
governantes descuidados ou distraídos vem traduzida em poucas palavras: Porquê?
Porque sim! E a condizer em primarismo vocabular, rematam: Prontos!
Claro que se
conhece a tendência de muitos autarcas em marcar os seus mandatos com obras
sumptuosas de arregalar o olho. E pensam (já ouvi dizê-lo): “Quem vier a seguir que feche a porta”. (Estar habilitado a fazer esta
citação é uma vantagem de quem tem 86 anos de fado existencial mui preenchido
de experiências múltiplas).
E por referir
obras de excessiva grandeza ou de elevada despesa e o gigantismo disfuncional das
mesmas, é espantoso que no meio citadino ninguém fale na monstruosa aberração
urbanística que é aquela estrutura de ferro que aparenta ser travessia de peões
sobre a avenida de acesso ao hospital. Aquilo é um execrável aborto que
envergonha a cidade, desvaloriza os técnicos de planeamento urbano e evidencia
a que extremo ponto de irresponsabilidade chegaram os governantes que tão mal
terão gerido as finanças de uma autarquia enfrentando uma agonia financeira.
Volvendo à
questão do Rossio, pergunto: Não será uma falsa questão? Desperta sem racional
objectividade. Não haverá outras prioridades a contemplar no imediato? Será que
em Aveiro as obras têm prazos de validade? Como o Rossio que foi renovado pelo
Dr. Girão Pereira e que nos querem fazer crer que atingiu o termo da sua eficaz
utilização. Validade que conta uma existência de aproximadamente 40 anos.
Decerto que,
face ao esbanjamento de dinheiros públicos ora programado, haverá conveniência
de a autoridade municipal de Aveiro informar os munícipes de que, a partir de
agora, as grandes e dispendiosas obras da autarquia passarão a ter a utilização
restringida a 40 anos.
Uma última
observação: Como é possível admitir-se, com uma ligeireza impressionante, um
parque subterrâneo naquele local, junto à ria, em subsolo lagunar, de nível
aquífero quase superficial, que acarretaria enormes custos de construção em que
sobressaem as fundações e as impermeabilizações? Há noção do volume de tais
encargos financeiros?
Se há coisa
inadmissível naquele Rossio é precisamente um parque de estacionamento
subterrâneo e por ele atrair os inconvenientes fluxos de trânsito.
O enorme gasto
de construção do parque subterrâneo de 3 pisos (se bem me recordo) da Praça
Marquês de Pombal, que nem as moscas a ele afluem, não é exemplo suficiente
para se pôr liminarmente de parte a incrível ideia?
Uma prevenção há
que fazer: mesmo que, por absurdo, haja parecer técnico favorável a semelhante
solução deve considerar-se que, muitas vezes, os tais controversos pareceres
são feitos com o propósito dos seus autores auferirem as altas percentagens de
honorários dos respectivos projectos, cobrados em função das grandes
estimativas orçamentais; e que em Portugal são, por via de regra, largamente
ultrapassadas no final das obras, a que corresponde a actualização dos
honorários dos projectos.
Uma coisa me
inquieta e, sobremodo, me surpreende: Na Câmara Municipal de Aveiro, não há
ninguém que se aperceba da gravidade da chamada questão do Rossio? E que, de
imediato, ponha cobro às despesas com o famigerado projecto?
Oxalá, que o bom
senso e o sentido de bem servir a comunidade prevaleçam, contra tudo e contra
todos que se obstinem em se determinarem pelos seus preestabelecidos equívocos
e deslumbramentos funcionais.
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