COM A DEVIDA VÉNIA…

Sob este título, a partir de hoje abrimos, neste blog, um pequeno espaço onde vamos inserir transcrições de textos com valor informativo ou cultural; e cuja frequência ficará, naturalmente, condicionada à nossa disponibilidade de tempo.

Queremos informar que assumimos o propósito de quebrar a rotina instalada nos periódicos lisbonenses e em alguns jornais da Província (bajuladores e sempre de cócoras perante tudo que procede de Lisboa); os quais induzem a ideia de só encontrarem qualidade às intervenções dos membros das “capelinhas” da capital alfacinha, desprezando ostensivamente os autores residentes na paisagem aquém da terra lisboeta.

Assim, esperamos seleccionar escritos de apreciável merecimento. Tendo em mente proporcionar aos nossos leitores oportunidades de diversificarem as leituras de opiniões de diferentes personalidades.

Hoje, Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, apraz-nos iniciar a rubrica com a transcrição de uma excelente crónica sobre a pobreza, do distinto escritor e poeta Manuel António Pina, inserta no Jornal de Notícias, edição de 17 de Outubro de 2007.

Portanto e com a devida vénia:

O Diabo dos Números

“Uma das lições de Teplotaxi, o Diabo dos Números de Hans Magnus Enzensberger, é a de que, mais do que para fazer contas, os números servem para pensar. Que pensar então com os números agora anunciados pelo INE, segundo os quais há dois milhões de pobres em Portugal. O que nos coloca no pelotão da frente da vergonha da União Europeia? Mais: Portugal é o país da EU onde é maior o fosso entre ricos e pobres, isto é, onde os ricos são mais ricos e os pobres mais pobres. E os números referem-se a 2005, quando a taxa de desemprego andava na casa dos 7%. Hoje, como se sabe, já vai em 8,3%. Em contrapartida, nos primeiros seis meses deste ano, só o BES, o BCP, o Santader e o BPI lucraram 6,3 milhões de euros por dia, ou seja, cerca de 263.6 mil euros por hora. E, no último ano, as fortunas dos 100 portugueses mais ricos cresceram (os números, agora, são de Fernando Nobre, presidente da AMI) mais um terço. Entretanto, Isabel Jonet, da Federação dos Bancos contra a Fome, fala dos “novos pobres” que todos os anos engrossam o número de portugueses (em 2006 foram 216 mil) que dependem de ajuda alimentar para sobreviver. No meio disto, haverá decerto razões para se festejar outro número, o de 3% de défice. Mas não se justificará algum comedimento nos festejos?”.

Feita a leitura, que dizer?

“O Diabo dos Números? - COm certeza!

Mas também: Os Números do Diabo.