Leitor,
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SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

sábado, fevereiro 05, 2022

 

REVISTA ENVELHECER

ENTREVISTA DE BRASILINO GODINHO

(Continuação da primeira parte)

Manuel de Almeida, da Lusa, assina um artigo intitulado “Ministro da Segurança Social vai defender na ONU o potencial dos idosos”. Este título só pode ser uma brincadeira, como afirma num dos seus Apontamentos? Pode explicar-nos porque não acredita de tal defesa?

            A pergunta julgo que obriga a algumas correcções.

A primeira tem a ver com o tempo verbal “assina”. Diria que o jornalista da Lusa assinou in illo tempore o artigo focando a ida do Ministro Vieira da Silva à ONU logo semanas depois do encontro internacional de 22 de Setembro de 2017, realizado em Lisboa, sob a égide da ONU, com participação de ministros oriundos de 52 países. Actualmente o cargo ministerial já não é ocupado por Vieira da Silva.

Quanto à defesa do potencial dos idosos, outras pessoas, delegadas à conferência, a efectuaram com eficiência tal que teve consagração na Declaração Universal dos Direitos dos Idosos. O Ministro Vieira da Silva aproveitou a onda; fez breves declarações de circunstância, para não ficar mal na fotografia.

Passo ao lado da “brincadeira” porque o assunto é mui importante e não se compadece com gracejos. Porém, aponto que de imediato comentei desfavoravelmente a ida da ministerial criatura à ONU, pois que a defesa dos idosos já tinha tido lugar e aprovação expressa na assinada Declaração Universal. Foi uma viagem desprovida de interesse para a causa dos idosos e improdutiva como logo escrevi em crónica sobre o caso.

Cingindo-me ao “potencial de tal defesa” digo que foi apurado e incluso na referida Declaração Universal. Mas isso é uma coisa de apreciar como reconhecimento universal dos direitos dos idosos e das potencialidades que lhes são adstritas; e outra coisa condenável é o desprezo que o nosso governo manifesta persistentemente para com eles, desperdiçando a enorme riqueza da massa cinzenta de milhares de idosos com direito a continuar a ter digna vida activa e a servirem devotadamente Portugal – o que sendo muito negativo é levado, acintosamente, à prática pelos altos dignitários do Poder em Portugal, num decurso de incumprimento das normas e objectivos delineados na Declaração Universal de Lisboa.

 

Em Portugal, os governantes desprezam as pessoas idosas? Será esta a explicação para a inexistência de uma estratégia para o Envelhecimento Ativo e Saudável?

            É relativamente fácil a uma pessoa dotada de faculdades de alma aperceber-se de que os idosos estão marginalizados na sociedade portuguesa - e desprezados pelos poderes central e autárquicos e por alguns sectores da sociedade.

Neste quadro de desregulação social avulta a elucidativa circunstância de na Assembleia da República não haver um único deputado idoso a representar o que no próprio Palácio de S. Bento já foi apelidado de “peste grisalha”. Repare-se na carga pejorativa contida na expressão e no facto de que, no plenário, nem uma voz se ergueu a protestar contra tal ofensa à dignidade de milhares pessoas respeitáveis deste país.

Esta observação demonstra quanto são desprezados tantos milhares de portugueses a quem nem são asseguradas condições de vida digna e que no caso de reformados da função pública todos os anos se contemplam com reduções dos valores monetários das suas pensões miseráveis de mui triste sobrevivência; mesmo quando “obsequiados” com ridículos, infames, aumentos mensais; os quais logo são desvalorizados com os agravamentos de impostos directos e indirectos e aumentos dos custos dos bens alimentares, combustíveis, vestuário, calçado, medicamentos, consultas médicas, transportes, rendas de casa, água, gás, telefone, electricidade, etc..

Ou seja: o governo dá indecente “esmola” com a mão direita e, de imediato usando ardilosos expedientes, com a esquerda retira sorrateiramente algo mais. Deste modo enganador e desonesto ele, sistematicamente, vai empobrecendo as populações e agravando as precárias condições de vida da maioria dos aposentados e trabalhadores portugueses.

Uma escandalosa e até mortífera política que atinge principalmente as pessoas da terceira idade, que sem meios materiais para sobreviverem com decência são a breve ou médio prazos encaminhadas para a última morada. Agora encaminhamento mais facilitado pelos efeitos mortíferos da Pandemia Covid 19, de que nunca saberemos o exacto número de vítimas.

E de tal calamidade promovida pelos governantes não se elaboram estatísticas, visto que lhes interessa ocultá-la o mais possível e nesse propósito há que escamotear com fingimentos vários a dramática realidade.

Logo conexa com esta política de concretizar o desejado extermínio da “peste grisalha” e por ainda não haver maneira de acabar com a “peste parlamentar”, por mim já várias vezes denunciada, aí temos operando aqueloutra política governamental de prosseguir a “inexistência de uma estratégia para o Envelhecimento Ativo e Saudável” com nítida violação da Declaração Universal dos Direitos dos Idosos. Nessa faceta negativa da sua actividade é o governo coerente.

Assim apresento a explicação que me é solicitada na segunda pergunta antecedente.

 

O idadismo, preconceito baseado na idade, é a 3.ª forma de discriminação depois do racismo e sexismo. Um claro exemplo de idadismo foi o despedimento do jornalista Henrique Garcia da TVI. No seu livro aponta o dedo ao Sindicato dos Jornalistas e ao ministro dos “Despedimentos dos Idosos”. Quer comentar este caso?

A discriminação dos idosos como qualquer outra relacionada com o racismo e sexismo, é sempre condenável e não devia acontecer numa sociedade regularmente estruturada, em que se respeitassem os direitos cívicos, se cumprissem os normativos da Declaração Universal dos Direitos do Homem e a Declaração Universal dos Direitos dos Idosos e na qual também prevalecessem os valores da Fraternidade, Liberdade e Igualdade.

Só que tudo isso pressupõe a existência de um Estado de Direito – o qual não tem formatação sociopolítica em Portugal. O Estado de Portugal tem configuração maçónica – o que tem implicações várias e consequências bastante nocivas no descalabro funcional da Nação. Ele, também um Estado paradigma de hipocrisia institucionalizada a todos os níveis da governação e da sociedade.

Por outro prisma de análise crítica há que admitir que tais circunstâncias decorrem da degradação geral do País a que se chegou por a maioria da população se manter há séculos num estádio de analfabetismo crónico nos três graus: primário, funcional e cultural.

Um estádio de menoridade cívica que muito facilita o predomínio de agentes políticos empenhados em o manter indefinidamente e até o aprofundar, para mais intensamente explorarem e dominarem, sem resistência activa a nação dos milhões de indígenas humilhados, ofendidos, maltratados, em transe existencial, precedendo o encaminhamento para os cemitérios.

Daí que sob o impulso de um clima vicioso de políticas desconformes e de corriqueiras práticas condenáveis, o idadismo sendo atitude preconceituosa e discriminatória com base na idade, atingindo sobretudo os idosos, se manifeste a todo o instante nos vários sectores da Nação e per se constitua um reflexo de grande atraso civilizacional.

O caso de Henrique Garcia, não sendo invulgar, tornou-se emblemático por ser figura pública e ter tido bastante divulgação nos órgãos da Comunicação Social. Julgo que o Sindicato dos Jornalistas deveria ter tomado vigorosa posição de repulsa pelo despedimento do jornalista da TVI com fundamento no factor idade (completar 70 anos).

Claro que a ocorrência de tal caso transmite ilustração, pertinência e objectividade às considerações que expusemos nos antecedentes parágrafos.

 

Para que tem servido, na prática, a Declaração Universal de Lisboa, de 22 de Setembro de 2017, dos Direitos dos Idosos?

            Sem necessidade de me alongar na resposta e por carência de matéria factual, afirmo: Em Portugal, para muitíssimo pouco; de ocasional e parcelar, sobremodo restrito.

 

O que falta fazer para que vivamos numa comunidade para todas as idades?

            Faltam imensas coisas!

Em primeiro lugar: EDUCAR os cidadãos. Uma imperativa tarefa a desenvolver nas duas próximas gerações.

Em segundo lugar: Recorrendo a um ENSINO de excelência e com recurso à EDUCAÇÃO, entretanto ministrada a milhares de cidadãos, criar um genuíno ESTADO DE DIREITO em Portugal.

 

A aprendizagem ao longo da vida é um pilar fundamental para uma longevidade feliz?

Digo: sem dívida que “é pilar fundamental para uma longevidade feliz.”. Outrossim, meio adjuvante de a prolongar em conformidade de plena realização pessoal.

Brasilino Godinho tendo sido autodidacta desde a adolescência, caloiro universitário aos 77 anos de idade e aos 85 anos alcançado o Doutoramento, faculta provas convincentes; materializa testemunho eloquente e inquestionável. 

 

 

Finalizo a entrevista expressando o desejo de que estas minhas declarações não sejam reproduzidas, em letra de forma/imprensa, segundo o Novo Acordo Ortográfico; dado que falo e escrevo com activo repúdio por tão aberrante e desvalorizado instrumento linguístico.