PUBLICADO HÁ UM
ANO
BRASILINO GODINHO
208. APONTAMENTO
05 de Abril de
2019
O INVULGAR E
GRANDE TABU PROFISSIONAL
DA
VIDA PROFISSIONAL
DE BRASILINO GODINHO
(Continuação
do 206. Apontamento)
Na
condição de casado, residindo em Leiria, com encargos de família e propósito de
evolução pessoal, de pronto se me pôs a questão: de que forma e recorrendo a que meios, como vais Brasilino
enfrentares a vida, assegurares a regular e proficiente manutenção do lar, a
educação dos filhos (que tiveres) e prosseguires o cumprimento do teu desígnio
de adolescência: a carreira universitária; se não tens outros rendimentos para
além do magro vencimento de desenhador de 3.ª Classe, da Direcção Geral dos
Serviços de Urbanização?
Questão
delicada e bastante complexa. Reflecti devidamente, com racionalidade, nos
termos que passo a expor.
Para
mim era claro que, dadas as dificuldades em conseguir alternativas profissionais
e por imperiosa obrigação de não arriscar perigosas aventuras, a elementar
prudência obrigava-me a conservar o exercício da função pública.
Havia que dar volta à situação. E a melhor forma seria
de prosseguir livre curso e a plena aplicação: da experiência de vida já
acumulada, da bagagem intelectual e dos conhecimentos adquiridos na área de
engenharia civil.
Decididamente, Brasilino
(ocupado em dialogar consigo mesmo) tu vais dedicar-te às actividades de
projectista em engenharia rodoviária, sem necessitares de orientações de
qualquer engenheiro.
Brasilino isso prometeu a
si próprio.
Parêntesis, para afirmar
que tal promessa foi cumprida integralmente (sem uma única quebra) no decurso
dos meus 60 anos de vida profissional!
Raciocinei: qual o expediente
utilizado por um engenheiro para alcançar o seu diploma universitário?
E ponderei: concluído o
curso liceal, entra directamente para a Universidade, frequenta os cinco anos
do curso e sai diplomado engenheiro. E na universidade que fez ele? Estudou
pelos livros e pelas sebentas, sob o acompanhamento e supervisão dos mestres.
Falta-lhe a prática que irá adquirir no exercício da profissão para a qual
ficou oficialmente habilitado.
Pois bem, se ele soube
ler os livros e as sebentas, tu, Brasilino, também sabes ler e interpretar as
matérias contidas nessas publicações. E à partida até lhe levarás vantagem,
tendo em conta que já tens alguns conhecimentos e prática de engenharia civil,
nomeadamente na área de engenharia rodoviária. Tu, Brasilino, vais desenvolver a
actividade de projectista de vias rodoviárias, e, futuramente, também
abrangendo as infra-estruturas urbanísticas. *
Porém, na certeza de que jamais
vais necessitar da orientação de qualquer engenheiro. Dito para mim mesmo. E
assim feito - repito - durante sessenta anos de vida profissional muito activa.
Tal decisão constituiu um
marco histórico na minha existência como cidadão responsável.
Mas com ela e a partir da
data em que foi assumida, tomou corpo e exposição opressiva um tabu; qual espada
de Dâmocles apontada à minha cabeça; a qual se manteve latente durante os
sessentas anos das minhas actividades projectistas, exercidas a nível oficial e
a título particular.
O 209. Apontamento
contemplará a narrativa sobre esse tabu.
*Relativamente
ao caso de Brasilino Godinho ter sido técnico de engenharia rodoviária sem
canudo universitário, assinala-se que lhe sucedeu algo parecido com a condição
de Le Corbusier, geralmente, considerado o pai da arquitectura moderna. Le
Corbusier, nunca frequentou uma instituição de Ensino Superior de Arquitectura.
No entanto, foi um dos mais talentosos arquitectos do século XX.
Le Corbusier teve a sorte
de ter nascido na Suíça e o Brasilino Godinho, a priori, o azar de ser nativo
de Portugal…
0 Comentários:
Enviar um comentário
<< Página Principal