BRASILINO GODINHO
264. Apontamento
29/Agosto/2019
MAIS UMA GRANDE CHATICE
INQUIETANDO PROTUGUESES
Há generalizada
impressão em Portugal e nos arredores europeus, de que Portugal é terra
amaldiçoada onde se vive em constante alvoroço quanto à incerteza do dia de
amanhã. Factor não despiciendo a ter presente é a falta do conhecimento de
ciência certa quanto à identidade do agente amaldiçoador; o que bastante
contribui para agravar o mal-estar que muitos devotos sentem quando ouvem o
despedimento do fastidioso e obsessivo “Até amanhã se Deus quiser”.
Também grande e
negativa influência é sentida diariamente, aos fins de tarde, pelos
espectadores do programa televisivo que os intimida na desesperança dum amanhã
que dependeria da ocasional resultante favorável expressa no reparo “se Deus
quiser”.
Como se tal
inquietante dúvida que dia-a-dia fica sobressaltando o espírito do pacato
indígena de religiosa fé, não fosse bastante deprimente, deveras
estupidificante e, em absoluto, vazio de racional sentido, vão-se repetindo
manifestações de semelhante jaez e motivadoras de crescente aflição.
É o caso ocorrido
hoje de manhã, num programa televisivo, em que foi dito (sem pestanejar, se bem
me apercebi) pelo ex-jogador Jorge Andrade, que a selecção de Portugal ganhará
o campeonato europeu se… Deus quiser.
O que esta afirmação
traduz? Que os portugueses tirem o cavalinho da chuva e se deixem de ilusões.
Portugal só vencerá se Deus quiser. Porque se ele não quiser nada valerão a
crendice do seleccionador Fernando Santos, as habilidades dos jogadores e os
incentivos das claques em gritarias frenéticas nas bancadas dos estádios.
Mais: para além de
tal arrepiante incerteza quanto à benevolente condescendência da Divina
Criatura, prevalece a aberração concernente ao fulcro da questão: Porquê, Deus
haveria de ocupar seu precioso tempo de absorventes, divinas, tarefas, a pensar
e a decidir-se sobre o desfecho da participação da selecção portuguesa numa
disputa futebolística? E a equipa portuguesa ser preferida e as outras equipas
serem preteridas – porquê?
Por acaso,
perspectiva-se ou insinua-se uma cunha do Presidente Marcelo ao Divino Espírito
Santo, com quem mantém excelentes relações? – segundo a interessante indicação
que teve a gentileza de transmitir ao pagode, através de uma entrevista a um
órgão de comunicação social, em data relativamente recente.
Enfim, todas as
aventadas hipóteses de intervenção de Deus nas vidas de indígenas portuguesas,
são tendenciosas chatices visando inquietar demasiado os seres de frágil
espírito e que seriam inteiramente dispensáveis se outra fosse a capacidade de
discernimento e racionalidade instalada na sociedade portuguesa.
Atente-se na imensa
chatice e grande tormento decorrentes da terrível incerteza de que ficam
sofrendo os adeptos do futebol nacional, inteiramente dependentes da desejada e
hipotética, soberana, vontade de Deus em querer que a selecção portuguesa ganhe
o campeonato europeu.
É de recear que
muitos adeptos sucumbam ou percam a fé se Deus não quiser atender às invocações
que lhe são feitas a toda a hora e instante…
Uma coisa podemos
ter como certa: se Deus existe, está possuído de infinita paciência para aturar
tanta e variegada pedinchice de fanáticos, abusivos, crentes portugueses…
Nota final
O
ser humano é minúscula partícula do Universo. Para quê estar constantemente a
lembrar-lhe essa condição de inferioridade? Implícita na expressão "se
Deus quiser". Para o crente é dado adquirido que tudo depende da vontade
divina. Insistir é "chover no molhado". Afinal, um contra-senso.
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