Ao compasso do tempo...
UM EUFEMISMO IMAGINATIVO...
MAS SIMPLISTA E SIGNIFICATIVO...
Brasilino Godinho
Das notícias de hoje, editadas pelo SAPO, transcrevemos a informação seguinte: “Mortes em excesso por todas as causas ultrapassaram as seis mil nas duas últimas semanas” (o sublinhado é nosso). Em Portugal, anotamos.
Quer isto dizer que a sucessão das mortes dos portugueses prossegue à cadência de mais de 3000 por semana. É um número impressionante! Igualmente, uma calamidade!
Em paralelo, as entidades governamentais também vão evoluindo na explicação do fenómeno, que trazem ao público.
E se ontem para elas, as zelosas agentes de acompanhamento dos casos e das pessoas em rápido passamento, as mortes eram provocadas pela mistura do traiçoeiro frio, da esquiva gripe e de uns tantos maliciosos vírus, hoje emana da mesma procedência outro diagnóstico que, simplesmente, se reduz a quatro palavras: “Por todas as causas” - houve em Portugal mais de seis mil mortes nos últimos 15 dias.
Só que, se bem ponderarmos, tal expressão não é um diagnóstico mas sim um eufemismo que, relevando imaginação do(s) seu(s) autor(es), não deixa de ser simplista na formulação. Com a agravante de ela se apresentar distorcida da realidade. Também significativa: quer quanto à incapacidade do governo em definir correctamente o quadro da situação; quer quanto ao manifesto propósito de iludir as razões determinantes que, em grande parte, justificam a sucessão dos óbitos – os quais, certamente, não ocorrem no grupo das classes dominantes deste país. Tome-se a devida nota desta peculiar circunstância. Porque, muito elucidativa da dramática realidade da nação portuguesa.
Para além das precedentes e apropriadas caracterizações, a referida expressão pode considerar-se uma charada. Porquanto, não identifica as causas que serão todas. Quais? Muitas? Poucas?
Todavia, não tem qualquer sentido falar em mortes “por todas as causas”. A menos que, mais uma vez, os governantes tenham procedido como se todos os portugueses fossem idiotas, prontos a absorver todas as patacoadas que a suas excelências lhes dá na real gana remeter ao público.
Aliás, há uma suprema razão para acontecerem as mortes: as pessoas estarem vivas…
O que, tratando-se de funcionários públicos, idosos, pensionistas do Estado, doentes e desempregados (adultos e jovens), é suficiente causa de incómodo para os governantes.
De modo que se o movimento obituário está em marcha acelerada, isso representa um alívio para quantos governantes almejam assim conseguir o reequilíbrio das contas públicas, a diminuição dos encargos sociais. a rentabilidade económica dos hospitais e a liquidação das dívidas do Ministério da Saúde às farmácias.
“Mata-se o bicho; acaba a peçonha”…
Afinal, são os malfadados indígenas que, teimando viver em precárias ou miseráveis condições de subsistência, se constituem as bastantes e objectivas causas das chamadas todas, omitidas na informação governamental…
Claro que o governo, estando (como dizem os ministros) atento e operoso, faz o conveniente acompanhamento do processo revolucionário em curso de empobrecimento geral. E os bons resultados vão surgindo…
Fim
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