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SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

sexta-feira, fevereiro 04, 2022

 

REVISTA ENVELHECER

 

ENTREVISTA DE BRASILINO GODINHO

28/11/2021(Por ser extensa é inserida em duas partes)

 

 Que objectivos visa atingir com as suas lúcidas e, não raras vezes, polémicas reflexões críticas?

Na qualidade de cidadão português que desde a adolescência se mantém atento ao decurso da sociedade portuguesa tenho acompanhado com muita apreensão a tendência crescente apontada para o declínio do país, o agravamento das condições de vida do povo, o generalizado abandalhamento da sociedade portuguesa, o contínuo incumprimento das normas, valores e princípios morais e éticos que dão harmonia e consistência ao colectivo dos cidadãos; um todo de perniciosos e deletérios efeitos que releva de total desprezo pelos deveres de cidadania e de sentido de justiça e, sobremodo, é decorrente do estado de iliteracia funcional e cultural, da falta de Educação e de falhas no Ensino, que muito afectam a maioria dos portugueses e, ainda, da nefasta adulteração da Política que deveria ser tida como nobre arte ou ciência de bem governar/administrar a nação.

Daí, que me mantenha apreensivo e propenso à reflexão e disposto a expola ao público, dando assim modesto contributo de exercício de um singular magistério didáctico que facilite e incentive os portugueses a serem observadores atentos da quotidiana vivência da sociedade, a estarem aptos a desenvolver aptidões de crítica e habilitados a assumir posturas de rigorosa exigência na avaliação que imperiosamente devem fazer em consonância com o evoluir das situações e actividades sociopolíticas.

Portanto, o meu objectivo visa a criação de condições e instrumentos de formação de uma esclarecida e operativa mentalidade na grei portuguesa que possibilite um novo e brilhante rumo de regeneração da Pátria.

 

Durante a apresentação da obra “APONTAMENTOS BRASILIANOS”, referiu que não gosta das Universidades Seniores. Quer explicar o que motiva esta aversão?

            Na resposta a esta questão quero frisar que não tem cabimento o conceito de Brasilino Godinho gostar ou não das ditas “universidades seniores”. No entanto, devo observar: que expressão repugnante para quem é dotado da faculdade de sentir.

Outros relevantes aspectos há a considerar.

Desde logo, é de rejeitar liminarmente a abusiva designação de “universidade sénior”, embora ela corresponda à predominância na sociedade portuguesa dos seguintes factores deletérios: falsidades várias multifacetadas e dispersas por bastantes diversos sectores da sociedade; fingimentos de sentimentos, de acatamento de princípios, de existência de ideias importantes, de formulação de opiniões e ideias válidas apontadas ao revigoramento da nação, de posses de bens materiais, culturais, aptidões e de títulos académicos. Ou seja: um país que está mergulhado num pântano de degradação e sobre ele, bem visível e pernicioso o manto terrível da hipocrisia associada ao cinismo.

Depois, há que ter presente que a designação de universidade sénior é totalmente descabida e censurável sob o ponto de vista sociológico.

Mais afirmo: trata-se de um grosseiro erro de natureza semântica e releva um bacoco pretensiosismo e uma intolerável impostura que repugna as mentes mais esclarecidas que muito zelam o bom uso da Língua Portuguesa e o sentido realista em que deve assentar a seriedade e a justeza das funcionalidades e atribuições das instituições, sejam elas das mais díspares naturezas. 

De modo que, nesta absurda e repelente questão, há que atentar num dado inquestionável e determinante: Universidade é uma instituição de ensino superior, científico, dedicada à investigação e que confere graus académicos de elevado conhecimento nas áreas das Ciências e das Humanidades. Tem a valiosa atribuição de proporcionar formação superior das novas elites; às quais caberá a obrigação de contribuírem para melhor orientar e desenvolver a nação nos diversificados domínios que a integram e lhe dão consistência e operacionalidade.

Outrossim de anotar é que tais aberrantes “universidades seniores” deveriam ter outras designações mais apropriadas e objectivas. Por exemplo: Associação Cultural e Recreativa, Sociedade Cultural e Recreativa, Clube Instrutivo e Recreativo, Centro de Animação Cultural e Recreativa, Cooperativa Cultural e Recreativa, Colégio Sénior de Cultura e de Recreio.

Elas, designações mais objectivas, condizentes com a funcionalidade que desenvolvem e relevando seriedade e decência, aplicadas em alternativa às fantasiosas “universidades seniores” - quais designações contrárias à razão - foram postas de lado por não satisfazerem o pretensiosismo de os seus “alunos” e professores se darem ares de académicos e de superior grandeza universitária para inglês ver e saloio deslumbrar. Dito de outra maneira: tais como os licenciados arrelvados e socráticos também eles querem fingir ser, aquilo que de facto não são. Melhor explicitando: uma impostura de todo o tamanho, consagrando a hipocrisia generalizada por tudo que é sitio nacional e actividade portuguesa.

Face a este triste e deplorável quadro que afecta o prestígio da Universidade de Portugal lamento profundamente que os altos dirigentes do Ensino Superior não tenham tomado firme posição de repúdio contra a existência das tais “universidades seniores”.

Dos governos não haveria, nem há, que esperar reacção visto que se encontram comprometidos e coniventes com as “universidades de verão” e algumas “universidades seniores”; pois que isso lhes parece favorável à manutenção de um statu quo de manipulação das gentes portugueses.

Observo que o exposto não traduz opinião de circunstância devida às minhas habilitações universitárias (Licenciatura e Doutoramento) alcançadas numa idade octogenária (de 77 a 85 anos). Há dezenas de anos, desde que surgiu a primeira - chamada “universidade sénior” - que venho, por escrito, rejeitando tal despautério, como outros são: nomeadamente, as “universidades de verão” expressamente destinadas às “jotas” (juventudes) partidárias e outras classificadas na gíria popular de “universidades de vão de escada”.

Nesta lógica da patetice e vaidade atrevida e sem nexo factual é provável que qualquer dia tenhamos as universidades de inverno, da primavera, do outono e as universidades infantis…

Tudo de idiotia é possível neste país. Nada de admirar no reino da bicharada - que parece acomodado no terceiro mundo - em que está convertido Portugal.

 

O senhor protagonizou um caso inédito em Portugal: “um caloiro universitário, com77 anos de idade, licenciado aos 81 anos e doutorado aos 85 anos.” Quais foram as suas principais motivações para encetar este percurso tão desafiante e exitoso?

Anoto que, segundo já foi escrito nos jornais e revistas, o ineditismo não se circunscreve a Portugal. Mas também tem sido assinaladol no Mundo. Atendendo à idade em que fui caloiro, aos 8 anos do percurso universitário e à obtenção dos dois graus: Acesso à Universidade (17 valores), Licenciatura em Línguas, Literaturas e Culturas (15 valores) Diploma de Estudos Avançados em Estudos Culturais (16 valores) e Doutoramento em Estudos Culturais (por decisão unânime do Júri Doutoral. O que hei conseguido com boas classificações, sem recurso a equivalências e com frequência assídua das aulas e prestação de todas as provas das disciplinas dos currículos académicos.

A decisão de ingresso na Universidade foi tomada na adolescência, após ter terminado o Curso Industrial de Serralharia Mecânica com a classificação de 13 valores, na Escola Industrial e Comercial Jácome Ratton, sediada em Tomar. Era um curso que detestava e para o qual não tinha vocação. A classificação de 13 valores é reflexa dessa inaptidão.

Só que por dificuldades financeiras dos meus pais a carreira universitária ficou adiada por 61 anos. Ao longo desse interregno outras prioridades se foram impondo na vida familiar e protelando o intento de ingresso no Ensino Superior.

Para além de cumprir o propósito que me impusera com fervor e determinação em cena invulgar ocorrida em 1947, junto à Charolinha, sita na Mata dos Sete Montes, cerca do Convento de Cristo, em Tomar, que relato no livro VIDA UNIVERSITÁRIA DE BRASILINO GODINHO, também se acrescentou o desejo de valorização pessoal e o intento de ficar mais habilitado para melhor ir servindo a nação portuguesa.

 

Que conselhos dá a quem queira envelhecer bem e fazer corresponder à esperança de vida a qualidade de vida?

Direi que a principal condição de envelhecer bem é o idoso ter forte vontade de prosseguir esse objectivo e de se estimar a si mesmo. Levando uma vida calma, sem invejar o próximo e o hostilizar com rancor e intolerância descomedida. Também não ser fanático político, racial ou religioso. O que em conjugação harmoniosa é condição básica de equilíbrio da mente propícia a manter uma existência de relativa felicidade. Este estado de alma só atingível se desfrutar de suficientes meios materiais que lhe assegurem o sustento, o abrigo residencial e os imprescindíveis cuidados de saúde.

Recomendaria que se mantivesse activo: fisicamente e intelectualmente.

E que fizesse exercícios físicos suaves, como subir escadas e andar todos os dias. Dedicasse tempo diário às leituras de jornais e livros. Enfim, mantivesse a mente sempre ocupada com ideias e intenções úteis, sempre desligada de pensamentos obsessivos. Distrair-se persistentemente. E nunca desistir dos seus anseios e objectivos de vida.

Tudo na vida se quer como o sal usado na comida: nem de mais, nem de menos, na adequada medida. E recorrendo à indispensável e conveniente prudência. Nada de excessos de qualquer natureza.

E outrossim ter cuidados com a alimentação e as bebidas que ingere diariamente. Também efectuar regulares consultas médicas e análises clínicas.

É fundamental a pessoa conhecer-se a si própria e ter plena consciência das suas potencialidades e das suas limitações e agir em consonância com umas e outras.

Nestas expressas recomendações limito-me a transmitir referência aos procedimentos que, de moto próprio, tenho mantido ao longo dos meus noventa anos de vida.

 (Continua na segunda parte)