Brasilino Godinho

7 de Março de 2015 ·

Pertinente comentário de Brasilino Godinho

Digam-me porque é que notícias, como aquela divulgada há instantes, do desesperado pai que não conseguia alimentar os filhos e prover ao seu sustento e da sua esposa, não são acompanhadas de vigoroso protesto e repúdio por parte de quantos as transmitem?
É hábito generalizado a muitos portugueses transferir, para os outros, obrigações que lhes caberia assumir. É um expediente de grande hipocrisia, embora cómodo (a ser acolhido com muito agrado pelos (des)governantes.
Aliás, próprio de gente egoísta e medrosa que, deliberadamente, se furta à luta e aos eventuais riscos que dela decorram. Gente que não se respeita, nem se dá ao respeito e à consideração da parte sã da sociedade.
Enquanto os infelizes se apropriam de escassos víveres para iludirem a fome e são ameaçados com a prisão se voltarem a ser apanhados em acções de pequenos furtos há, por aí, dispersos, grandes figurões que desgraçaram milhares de pessoas, muitos deles com assento à mesa do orçamento instalada no luxuoso restaurante palaciano de S. Bento, onde lhes são servidos opíparos almoços, fartos lanches e lautos jantares, a preços irrisórios, quase de borla; e, ainda, muitos mais indivíduos bem instalados, opulentos gatunos, que roubaram milhões e são recebidos com todas as deferências e bajulações nas salas da Assembleia da República e nos salões do palácio presidencial de Belém. Só falta estender-lhes a passadeira vermelha e conceder-lhes as condecorações habitualmente distribuídas no dia 10 de Junho. Para esses, nem se fazem ameaças de irem para a prisão.
Tanta forme a grassar em Portugal e, em simultâneo, um enorme desperdício de dinheiros públicos e um imenso esbanjamento alimentar, prevalecente num obscuro quadro onde se contempla o desavergonhado gozo e a torpe zombaria de uma minoria de exploradores sem escrúpulos
Este é o país que temos, praticamente refém de uma repugnante bicharada que nem se recomenda ao complacente menino Jesus…