HIPOCRISIA – O
ABOMINÁVEL FINGIMENTO
QUE SUBVERTE A
SOCIEDADE PORTUGUESA
Brasilino Godinho
O ser humano é um animal, mamífero, e com faculdades de alma
mais expressivas que as de outros quaisquer seres da natureza. Mas tem em alto
grau o instinto da agressividade. Dominar esse instinto concerne ao maior ou
menor domínio dos sentidos que o indivíduo consegue exercitar ao longo da
existência.
E porque dependente da formação e modelação do carácter que
caracterizará a maneira do sujeito se integrar na vida social, é que nele se
inscrevem as formas violentas de interagir com o meio ambiente e as comunidades;
que, em casos extremos de paranoia, podem estar na origem dos conflitos armados
de que são exemplos Hitler, Estaline, Mussolini e outros ditadores que foram
nossos contemporâneos.
Mas sem reportar a casos extremos de violência bélica, e até
com grande abrangência factual, deve ter-se em conta que a tendência agressiva
latente no indivíduo tem variáveis; por vezes, subtis formas de se manifestar e
redundarem em penosas consequências para a nação a título geral e para cada
cidadão em particular.
Isto expresso para realçar que a sociedade pode ser
gravemente afectada pelos expedientes de aparente singeleza, mas que contém a
virtualidade de causarem graves perturbações e danos à regularidade da
existência quotidiana do colectivo dos indígenas.
O que sucede ao compasso do tempo e que tem incomensurável
importância: como no caso da HIPOCRISIA; a qual, infelizmente, subsiste e é
determinante em inúmeras manifestações da vida activa da nação.
Exemplos;
O1. A República Portuguesa aparenta ser sociedade política de
regular governação. Não é!
Sente-se a realidade de uma república das bananas, de governo
ditatorial, instável, país falido, economia dependente de empréstimos sobretudo
externos e em que predomina o caos e a corrupção a vários níveis.
Dizer o contrário é dar livre curso à ilusão - é hipocrisia.
02. Declarar: em Portugal existe um regime democrático, é uma
falácia. Uma óbvia desonestidade intelectual; visto que o regime vigente é uma
ditadura do partido maioritário decorrente de uma eleição que o consagrou
vencedor, por uma inferior percentagem: quer do eleitorado; quer da totalidade
dos portugueses.
Há que ter bem presente que DEMOCRACIA é governo do povo,
pelo povo e para o povo. Ora, todos sabemos que existe, sim, o governo do(s)
partido(s), pelo(s) partido(s) e para o(s) partido(s) – tal e qual como
acontecia com a Democracia Orgânica de Salazar.
Persistir em designar democracia o que é partidocracia, por
sinal na mais deprimente formatação e censurável funcionalidade, é hipocrisia.
03. Fazer de conta que Portugal possui uma Constituição que
consagra a defesa e a promoção dos direitos do cidadão, representa uma grave
ofensa de natureza cívica; pois que ela é contraditória no seu articulado
referente a esse específico domínio. Também aqui se expressa hipocrisia –
institucionalizada no mais alto patamar da edificação do Estado de Direito.
04. Tolerar e favorecer a corrupção e as acções criminosas de
grandes tubarões que vivem enlameados em mares poluídos sobranceiros ao pântano
de que falava António Guterres, e encarcerar pequenos delinquentes, é uma
aberração jurídica que se teima em classificar como desempenho de um Estado de
Direito. Seria apropriado ditar uma grande asneira – a que não se dá curso de
aplicação por elementar educação de quem subscreve esta crónica.
Porém, registe-se que é detestável e insuportável hipocrisia
que se diga que Portugal é um Estado de Direito.
05. Continuar a produzir licenciaturas arrelvadas, socráticas
e felicianas, nas universidades de vãos de escada, de verões partidários e do
faz-de-conta, como os agricultores produzem cogumelos nas terras montanhosas de
Trás-os-Montes, traduz-se numa inqualificável anomalia a que se quer dar
semelhança com o responsável e competente Ensino Superior oficial. Aqui patente
a costumeira hipocrisia e uma grande desfaçatez.
06. Promover, enaltecer e premiar gente medíocre e de
duvidosa reputação, ou celebrar, festejar, pessoas de méritos inequívocos
depois de mortas, quando em vida foram desprezadas ou esquecidas, é prática
detestável de hipocrisia que vemos, horrorizados, em curso nas altas esferas do
Estado português.
No que concerne a faltas de respeito pelos valores da
Seriedade, da Verdade, da Educação, da Moral, da Ética, da Justiça, da
Democracia e da Dignidade de Portugal, do seu povo e do simples cidadão; sempre
subjacentes às práticas da Hipocrisia, muito haveria que ser esmiuçado nesta
peça. Porém, neste longo texto estão anotados elementos essenciais da questão
aqui em apreço - o que dispensa mais alongamentos no escrito.